A comunidade no facebook já juntou inúmeros casais por todo Brasil em seus 5 anos de existência
Lavinia Rocha
*Publicação de 15/12/2022
O Afrodengo é um grupo no Facebook destinado para a afetividade negra, criado em janeiro de 2017 pela jornalista e empresária Lorena Ifé, na Bahia. A comunidade possui o objetivo de aproximar pessoas pretas, possibilitando a criação de laços afetivos entre si. Atualmente o Afrodengo possui 55 mil membros, tornando-se a maior comunidade para relacionamentos entre pessoas negras no Brasil.
Lorena Ifé é jornalista formada pela Universidade Federal da Bahia e empreendedora na Ifé Comunicação. A ideia de criar uma comunidade voltada para a afroafetividade surgiu com as experiências que ela e amigas próximas tiveram em aplicativos de relacionamento. Ela conta que havia uma baixa diversidade de pessoas pretas nesses espaços.
A história do Afrodengo
O Afrodengo produz conteúdos voltados para a afetividade negra em suas redes sociais, potencializando a importância do amor preto e da afroafetividade, promovendo palestras e workshops, fortalecendo esse tema que é tão relevante para a comunidade preta.
Em entrevista, Lorena Ifé contou o que motivou a criação do grupo e toda a trajetória da comunidade que revolucionou a forma das pessoas negras se relacionarem, confira:
O que te motivou a criar o grupo?
“O Afrodengo eu criei em janeiro de 2017, a partir de uma necessidade de criar uma comunidade voltada para a paquera entre pessoas negras, por conta das minhas experiências em aplicativos de relacionamento ao perceber uma baixa diversidade de pessoas negras nesses aplicativos e não ter tido uma boa performance tanto minha quanto de amigas minhas que eu conversava da experiência nesses aplicativos. Aí decidi criar a comunidade que inicialmente tinha um outro nome e aí eu mudei para Afrodengo com a proposta de reunir pessoas negras.”
O que o afrodengo significa para você?
“Afrodengo representa o amor preto, dengo é uma palavra de origem africana que significa carinho e afeto. Afro é referente a africanidade, ao que é negro, então é afeto negro. Essa comunidade hoje tem 55 mil pessoas e une casais e amigos, tudo isso voltado para a afetividade negra.”
Você imaginava que a sua iniciativa tomaria uma grande proporção?
“Quando eu criei o afrodengo eu não imaginava que teria essa dimensão toda, achei que seria só uma brincadeirinha ali no facebook, mas ganhou uma proporção que eu nem tenho mais dimensão do que seja. Atualmente no grupo são 55 mil membros na comunidade oficial do afrodengo, no instagram nós temos mais de 23 mil seguidores e fui surpreendida com essa proporção que o afrodengo tomou. Nós já aparecemos em vários canais de mídia local, na bahia, no brasil e fora do país também, teve matérias internacionais e não tem uma pessoa que não conheça a trajetória do afrodengo.”
Quantos casais foram formados em média com o afrodengo?
“Não tenho dimensão, não consigo contar porque muita gente se conhece, se casa e não volta para contar, alguns casais voltam para contar, mas eu não tenho dimensão de quantos casais tenham se formado em números. Mas eu já fui convidada para ser madrinha de casamento de uma casal que se conheceu no afrodengo, uma moça de São Paulo e um rapaz de Alagoinhas aqui na bahia, foi a primeira vez que eu fui convidada para ser madrinha de casamento e eles me convidaram para ser celebrar o casamento no dia que o afrodengo fez 5 anos e isso para mim foi uma presente grandioso.”
O que você pensa sobre a afetividade negra?
“Eu penso que essa é uma pauta muito importante que foi despertada para mim quando eu li o texto “Vivendo de amor” da escritora afro americana bell hooks que já é falecida, esse texto fala sobre a importância do amor e do afeto para a comunidade negra e eu percebi a importância de se pautar e de conversar sobre isso. A afetividade negra é uma oportunidade que a gente tem de amar nossos iguais, eu falo enquanto mulher negra e de curar as feridas deixadas pelo período da escravidão porque como as pessoas negras que foram escravizadas eram consideradas sem alma, o amor, o afeto não era um direito garantido e agora nós temos oportunidade de curar as feridas do passado falando sobre amor, buscando viver essa afetividade que é um espaço de cura, de cuidado com o próximo e nos mantém vivos o afeto e o amor. É para isso que hoje eu milito, que eu luto para que essa pauta da afetividade seja algo presente e que faça parte das nossas vidas e que através do afrodengo muita gente possa se conhecer, se amar, assim como eu já conheci muita gente, tenho amizades e amores que eu conheci através dessa rede e eu sei impacta a vida de muita gente, muitas famílias foram formadas e para mim o maior presente é isso, celebrar o amor e fazer com que ele esteja presente na vida das pessoas negras.”
Os grupos para relacionamentos não são invenções atuais, essa prática já existia há muito tempo nos jornais impressos, conta Lorena, confira a seguir:
Entrevista da criadora do Afrodengo, Lorena Ifé para o podcast Mic Aberto do veículo Bnews.