Na manhã do falecimento do ex-presidente Néstor Kirchner, dia 27 de outubro, o chanceler Héctor Timerman deu início à corrida presidencial: “Cristina será a candidata dos argentinos e será vencedora das eleições. Não tenho dúvidas”.
Havia uma imprecisão quanto à candidatura à presidência na Argentina e devido ao último acontecimento não há mais dúvidas de que Cristina Kirchner irá se candidatar à reeleição.
A atual presidente do país, Cristina Fernández de Kirchner eleita no primeiro turno em outubro de 2007, mantém características do governo anterior, o de seu falecido esposo, em questões administrativas, como, por exemplo, priorizar as relações com a Venezuela e a Bolívia e manter a briga com o Uruguai sobre a fábrica de celulose no rio que faz fronteira entre os dois países, o rio Uruguai (problema já solucionado na corte de Haia na Holanda – que decidiu por uma fiscalização bilateral no monitoramento ambiental da fábrica).
Sua política interna de controle da divulgação dos índices inflacionários no país regula uma maior movimentação social e também conta com o apoio de Hugo Moyano, presidente da Confederação Geral do Trabalho (CGT) que controla as massas. Com isso, ela consegue dar crescimento econômico ao país.
Comparando os preços com o Brasil, uma garrafa de refrigenrante de 600 ml custa em torno de dois reais e em Buenos Aires não se encontra por menos que 12 pesos, ou seja, seis reais.
A fim de sair da crise de abastecimento elétrico, que tomou conta do país em 2007, a presidente realizou um plano de racionalização do uso da energia elétrica no país.
Também em seu mandato foi aprovada a lei 26.522 que trata da radiodifusão e proíbe a formação de monopólios e oligopólios dos meios de comunicação. Agora, para cada empresa há 10 licenças; o vigente eram 24.
A crise no kirchnerismo iniciou quando, nas eleições de 2009, a direita venceu na província de Buenos Aires e até em Santa Fé (cidade do ex-presidente Néstor Kirchner).
Como em cinco anos o governo continuado por Cristina Kirchner ainda não havia resolvido os problemas de salários dos trabalhadores, a oposição veio ganhando espaço no discurso contra o governo.
O sistema de produção de soja em todo o país é controlado por multinacionais e, com altos impostos, a arrecadação serve para pagar a dívida externa, uma das prioridades dos Kirchner. Assim, eles perderam apoio das massas em não nacionalizá-las. Problema também de Hugo Moyano, que, enquanto líder da CGT, não propôs plano de solução para os trabalhadores, mantendo apoio à situação. Consequência: grande perda de votos e crescimento da direita no país.
Segundo o historiador e autor do livro História Contemporânea da Argentina, Luís Alberto Romero, ala deverá governar em condições inéditas. “Até então seu esposo se encarregava da parte mais complicada do governo – e agora deverá engenhar-se para manter em paz e harmonia os distintos setores da aliança kirchnerista, que, faz tempo, mostram conflitos entre eles: por exemplo, o ascendente aparato sindical frente aos dirigentes regionais, como os prefeitos da região metropolitana (de Buenos Aires). Manter todos unidos era uma das tarefas mais absorventes de Kirchner, à que dedicou toda sua sabedoria na tática política”, afirmou.
Os maiores desafios de Cristina Kirchner agora estão em reorganizar a esquerda e impedir o maior fortalecimento da direita; trabalho que era realizado por Néstor Kirchner. Restabelecer sua ligação política com o peronismo, que desde 2003 não está a vontade com as políticas kirchneristas.
Portanto, eis o grande desafio da presidente: unir os aliados de seu governo e reforçar sua política trabalhista a fim de reconquistar o apoio do país, sobretudo da comunidade rural.
Jornalismo
A presente matéria foi produzida pela estudante de jornalismo da UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Raquel Pimentel, que esteve em Buenos Aires em outubro, juntamente com colegas e o coordenador do curso, Robério Marcelo, em uma viagem de estudos.