Lojistas observam maior interesse do público feminino e também procura pelos universitários
Luiz Guilherme Guimarães Improta
Acessórios, vestimentas, estimulantes e até comestíveis. Impulsionado pelo interesse crescente em itens de bem-estar sexual, o mercado de produtos sexuais movimentou R$ 2 bilhões em todo o país em 2024. Segundo pesquisa do portal Mercado Erótico, 6% da população já investiu nesse segmento, com gasto médio de R$ 150,00 por compra. Em Cachoeira, a 110 km de Salvador, o mercado segue aquecido com a procura pelos universitários.
O interesse do mercado de eróticos em lucrar com tendências de diferentes nichos não é novidade. Já é possível ver sex shops dedicados ao público da terceira idade e evangélicos, negócios que foram potencializados durante o confinamento da pandemia de COVID-19.
Por falar em sex shops, loja de sexo em tradução literal, eles “vieram” para o Brasil na década de 1970 para 1980, tendo a Complement, localizada em São Paulo, a primeira loja do tipo a chegar ao país. Em 1992, a pioneira veio a ser substituída pela Darme Sex Shop, que continua na ativa até os dias de hoje. Ao todo, segundo o portal Mercado Erótico, somam mais de 11 mil lojas sexuais no país, físicas e digitais.
Em Cachoeira, na Bahia, o sex shop mais antigo está em operação desde 2015. Alguns podem não estar tão aparentes, mas pedindo a referência certa é fácil de encontrar a loja ou uma pessoa que conhece alguém que vende online os produtos.
Disfarce
Entrada da Jandi Moda Íntima, localizada na Galeria Lobo. Foto: Guimarães Improta
Atualmente, a Jandi Moda Íntima usa como “disfarce” o logotipo de “moda íntima”. A discrição foi adotada desde o início de suas operações, 10 anos atrás, por conta da má receptividade dos moradores de Cachoeira, logo foi mudando. Mantendo o nome assim pela tradição e confiança conquistada. Jandiara França, 43 anos, afirma vender lingeries, cuecas, camisolas e pijamas junto com vibradores e masturbadores.
Vitrine com produtos da Jandi Moda Íntima/ foto: Guimarães Improta.
Jandiara é cachoeirana e ex-proprietária – passou o cargo para o filho – da Jandi Moda Íntima. Ela relatou que, nos primeiros anos da existência da loja, houve uma vergonha inicial da população, mas com o tempo, com trabalho e discrição a loja acabou ganhando a credibilidade junto aos consumidores.
Há uma procura diária pelos artigos da loja (não só os eróticos, camisolas e pijamas também), por públicos de todas as idades (de adolescentes até idosos). Mas destaca-se o consumo pelos estudantes do campus Centro de Artes, Humanidades e Letras – CAHL, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, e do Uniaene – Centro Universitário Adventista de Ensino do Nordeste. A maior parte do público da Jandi Moda Íntima é feminino e os vibradores são o produto mais procurado por elas.
Anéis penianos, vibradores e acessórios sendo vendidos juntos à colares e brincos. Foto: Guimarães Improta.
Ela e outros empreendedores locais têm focado nos universitários, um dos públicos mais significativos da cidade. Conforme a empresária, os estudantes do Centro de Artes, Humanidades e Letras – CAHL, campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, e do UNIAENE – Centro Universitário Adventista de Ensino do Nordeste, dois principais centros de formação da cidade, são os principais frequentadores de sua loja.
Os estudantes do UNIAENE são os que mais investem na vida sexual. Segundo Jandiara, são os homens os responsáveis por levar as parceiras para conhecer a loja, verem as fantasias, acessórios e brinquedos, e as incentivam a levarem os produtos para casa. Há ainda seminários no Centro Universitário que falam sobre saúde sexual e workshops para não deixar os cuidados de lado na vida íntima do parceiro.
As próteses e artigos com cunho mais explícito ficam guardados e são mostrados quando requisitados. Foto: Guimarães Improta.
Acolhimento e discrição
Saphira, 26 anos, estudante de Artes Visuais do CAHL conta que já teve uma experiência com a loja Jandi Moda Íntima. Apesar de não ser frequentadora assídua do estabelecimento, ela reconhece a qualidade do atendimento.
“Fui com um colega que comprou um consolo, mas eu indico a loja. A vendedora foi muito atenciosa e receptiva. Só não voltei lá por conta da demanda do dia a dia. Por isso, muitas vezes é mais fácil comprar pela internet”, disse a cliente Saphira.
Apesar do acolhimento e discrição, outros clientes da loja não conseguem visitar com frequência por conta da rotina corrida, agitada, sem tempo. Pensando nisso, a aluna de Publicidade e Propaganda Weyne Maiane, 27 anos, fundou a WM Secret, loja online de artigos eróticos, que atende em Cachoeira e cidades vizinhas, sem estabelecimento físico e com todas as vantagens de um empreendimento pela internet.
Print do perfil no Instagram WM Secret.
A loja online iniciou suas atividades em 2018, exclusivamente pela internet, já que Weyne percebeu que teria um alto custo para manter uma loja física, dessa forma, o perfil do Instagram @wmseecret e uma boa logística de entregas foram o suficiente para ela conseguir manter o bem-estar dos seus clientes, e com bastante discrição.
Com quase sete anos de atividades, o sex shop online possui demanda diária não só em Cachoeira, mas em toda região. A facilidade e discrição do negócio é tamanha que é possível encontrar a dona no CAHL com uma bolsa repleta de amostras de produtos que podem ser encomendados ou comprados na hora (aceitando até mesmo cartões de crédito, débito e pix).
Bolsa da WM Secret com produtos, expostos no CAHL/ foto: Guimarães Improta (2025)
O valor dos produtos nas lojas físicas variam justamente pelo repasse de outros custos (aluguel, água, energia) para o consumidor. No caso da WM Secret, por negociar direto com o fornecedor, consegue garantir preços menores para seus clientes. Em destaque, os géis lubrificantes que podem ser encontrados a partir de R$ 12, vibradores mais simples por R$ 20 e outros produtos mais caros, ou de tamanho maior (que não caberia na bolsa) podem também serem encomendados.
Curiosidade
Ao contrário do que se imagina, Weyne não enfrenta o constrangimento dos universitários ao exibir seus produtos no CAHL. Pelo contrário, a atitude desperta curiosidade e interesse entre os estudantes. Segundo ela, as mulheres representam a maior parte de sua clientela na faculdade, buscando principalmente óleos térmicos, que aquecem ou esfriam com fricção. Já o público masculino também demonstra interesse e realiza compras. Por mais que a compra, venda e uso dos produtos eróticos por universitários seja algo comum, não é um assunto tratado com tanta abertura ou com muitos holofotes.
Uma enquete tratando sobre o uso de produtos eróticos foi veiculada em um grupo de WhatsApp, composto por mais de 600 pessoas, todas participantes da comunidade acadêmica do CAHL. De todas as pessoas, apenas quatro responderam e duas preferiram não se identificar. Além de que todas as pessoas que responderam se identificaram como mulheres, sendo assim visível que há uma retração por parte do público masculino ao tratar do assunto.
Print da enquete veiculada no WhatsApp utilizando o Forms do Google com o tema “Questionário para reportagem: Produtos eróticos”.
As perguntas realizadas, além das de identificação e contato para abordagem posterior foram: Você consome ou já consumiu produtos eróticos? Foi fácil comprar ou houve alguma dificuldade? Acredita que o uso dos produtos de alguma forma melhoraram sua vida sexual? Como afetou sua autoestima? Você acha que há espaço para conversar sobre o uso de produtos eróticos dentro da universidade? Há naturalidade ou vergonha ao falar do assunto? E o acesso em termos de preço? Acha que qualquer pessoa pode comprar ou apenas para quem tem poder aquisitivo?
Mesmo com poucas respostas, houve unanimidade no quesito de que houve uma melhora tanto na vida sexual quanto na auto estima após terem utilizados os produtos eróticos.
Uma fonte que preferiu se identificar como “Nuvem Carregada”, 22 anos, relatou que em sua cidade, vizinha à Cachoeira, foi fácil comprar produtos eróticos por haver dois sex shops conhecidos. O interessante é que assim como a Jandi Moda Íntima, os dois também operam disfarçados como lojas de lingerie. Nuvem Carregada também fala da praticidade de comprar em lojas online, que garantem a discrição e possuem preços até mais amigáveis.
A entrevista falou sobre a facilidade de tratar do assunto na faculdade:
“Assim, não é um assunto que quero tratar na universidade. A não ser que eu esteja estudando para ser sexóloga ou esteja enrolando alguém pra ganhar dinheiro. De modo geral não faz sentido chegar pra um colega e perguntar se ele usa um plug”, disse Nuvem Carregada.
De uma forma ou de outra, os estudantes das universidades de Cachoeira e região, não só eles também como adolescentes, adultos e idosos de todos os gêneros e crenças, consomem os produtos, conforme relato das proprietárias das lojas de produtos. Consomem por que gostam da melhora proporcionada e prezam também pela discrição. Por mais que todo mundo saiba onde ficam os pontos físicos e sejam tratados com respeito nos estabelecimentos. A universidade é um local de oportunidade para venda e compra, de entender também mais sobre esses artigos desse nicho. Sendo assim,dá para perceber que é um mercado crescente com público diverso e cativo, sem descriminação, e atento às tendências.
