Debate sobre romper o padrão imposto sobre a libidinagem feminina explorando o autoconhecimento sexual ganha espaço no século XXI
Caroline Freitas
*Publicado em dezembro de 2022
Ilustração: Caroline Freitas
Quando se trata de sexualidade feminina é preciso lembrar que o sexo era tido como ato para reproduzir nos séculos passados. A mulher, desde o princípio com Eva, era o corpo predestinado a carregar o seu descendente. Explorar a sua sensualidade e o autoconhecimento não era uma questão a ser debatida, mas neste século temas como esse já estão sendo discutidos em busca de quebrar esse tabu. A estudante de comunicação, de 23 anos, falou sobre isso, mas preferiu não ser identificada.
“Para mim já não existe mais uma grande questão falar sobre sexo. Acho que não deveria ser para ninguém inclusive, seja homem ou mulher, mas essa coisa de querer tratar o sexo como algo impuro (ainda) acaba criando essa série de tabus”, disse a estudante de Comunicação.
Para as mulheres admitir que gosta de sexo vem se tornando um processo com evolução significativa, mas elas ainda sofrem com os impactos do machismo e segue na luta de desmitificar a visão imposta durante anos.
A historiadora Emilly Ferreira comentou sobre o assunto: “Acredito que é um processo. A Emilly de hoje tem uma relação muito melhor em admitir que gosta, pensar o que gosta de fazer, como gosta de fazer, mas isso é reflexo de um processo de desconstrução que não está completo, pelos impactos do machismo”.
Feminilidade e sexo
Dentro desses padrões a serem seguidos, a feminilidade é mais um conceito que exige da mulher atitudes socialmente aceitas como femininas. Pois, durante a fase de crescimento as práticas de como se portar é ensinada dentro de casa e outros ambientes da sociedade. Consequentemente o tema “Sexo” também é mencionado de forma a ser reservada e sempre guardada para si. O termo feminilidade deve ir além de ser mulher, é se sentir mulher.
Como afirma Simone de Beauvoir: “Ninguém nasce mulher: Torna-se mulher”.
“Quebrando os parâmetros antigos sobre feminilidade conseguimos perceber que se sentir mulher está relacionado também ao prazer sexual. Tipo, saber o que você quer na hora do sexo e o que gosta na hora do sexo é uma forma de perceber o que você merece enquanto mulher, se mostrar dona de si em todos os aspectos, principalmente na não dependência de um (uma) parceiro (a) sexual para sentir prazer, entende?”, disse a historiadora.
Masturbação
É muito importante para as mulheres saberem se tocar e descobrir quais estímulos as fazem chegar ao ápice do prazer. Para isso existem diversos objetos que agregam autoconhecimento corporal. O vibrador é um dos instrumentos que pode ser usado para o desenvolvimento sexual. A apresentadora Angélica afirmou, em entrevista a Globo no dia 20 de setembro: “Precisamos falar mais desses assuntos, para libertar as pessoas de umas amarradas. Vibrador é vida”, concluiu a artista.
A apresentadora comentou sobre o vibrador ser um aliado no relacionamento. Foto: Reprodução-Instagram
Quando perguntada sobre as descobertas após o uso do vibrador, a estudante declarou: “A partir da promoção do auto prazer é que a gente percebe o quanto os homens nos fornecem um sexo medíocre e totalmente ligado somente ao prazer dele, um sexo mecanizado até que ele chegue ao orgasmo e você tenha que fingir. Quando a gente começa a praticar o conhecimento do nosso corpo, das nossas áreas de prazer a gente começa a ter essa percepção de que merecemos mais e os chamados brinquedos eróticos funcionam justamente para nos ajudar a chegar naquilo que queremos e julgamos que merecemos.”
A psicóloga Carolina Braz, especialista em sexualidade humana, em uma entrevista para o jornal O Tempo, publicado no dia 04 de junho de 2022, disse que a visão de que a saúde sexual é fundamental para o dia a dia das pessoas é algo importantíssimo. E que pesquisas como essa desmistificam temas de muito valor – como a masturbação feminina, por exemplo – e mostram que vibradores podem ir muito além do que somente ajudar na hora do orgasmo.
De acordo com os dados divulgado em 21 de fevereiro de 2022, pelo site Metrópoles, cresceu cerca de 20% a procura de brinquedos eróticos entre as mulheres com mais de 50 anos.
Orgasmo e sentimentos
O orgasmo é uma resposta fisiológica, é a liberação da tensão sexual acumulada durante o ato sexual ou masturbação. O corpo feminino tem liberação hormonal como endorfina, gera bem-estar, adrenalina e noradrenalina, que aceleram os batimentos cardíacos.
De acordo com o sexólogo Fernando Rosero, especialista em saúde sexual, os níveis hormonais depois do orgasmo também mudam e vão decaindo do extremo prazer para outras sensações, fato que pode explicar a tristeza em alguns casos.
O sexólogo Fernando Rosero disse que os níveis hormonais após o orgasmo mudam do extremo prazer para outras sensações. Foto: Guiamed
“Os sentimentos são os mais variados e independente de ser uma relação com um parceiro ou ato de masturbação esse para mim não é um sentimento único e estou falando isso porque os pós sexo em algumas relações são sentimentos de felicidade, relaxamento, paz e em outras os sentimentos que sinto são de tristeza, ansiedade e até mesmo vergonha”, apontou a estudante.
No Brasil cerca de 55% das mulheres nunca tinham experimentado o orgasmo durante a relação sexual em 2016, de acordo com o artigo Transtornos sexuais dolorosos femininos.
Prazer feminino ainda é tabu
A luta para desmitificar o sexo e o auto prazer como algo impuro é grande. A sexualidade feminina ainda é renegada para satisfazer as fantasias do homem, mas mesmo sendo reprimida, as mulheres seguem na luta para que esse tabu seja quebrado e cada vez mais elas conheçam os seus corpos e os explorem.
Ao ser questionada sobre esse tema, a historiadora declarou: “Acredito que pelo desdobramento do machismo até os dias atuais. A construção social se dá em torno da ideia de que o mundo gira em torno de um pênis, quando as mulheres demonstram que faz muito mais sentido a relação com sua própria vulva sem necessitar de um homem a cabeça dos homens dá um nó. Falar sobre sexualidade feminina é enfrentar a ideia machista de que os homens são provedores, não só no sentido material, mas no sentido de proporcionar prazer”.
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