Entenda por que brasileiro não desiste das simpatias e como a fé, a cultura e até a psicologia explicam o empurrãozinho no destino amoroso
Cristina Jardim e Camila Silva
Santo Antônio, o “santo casamenteiro”, é um dos mais populares no Brasil. Crédito: Camila Silva e Cristina Jardim
Fazer Santo Antônio plantar bananeira, virar o ano de roupa vermelha, dançar na chuva, amarrar fita na igreja do Senhor do Bonfim e, até mesmo,plantar trevo de quatro folhas. Falamansa e Saulo já cantavam, em “Sete Simpatias Pra Ganhar Seu Amor”, que, para encontrar a alma gêmea, às vezes, é preciso de um pouco de magia, rituais e simpatias.
Tamanho é o apelo popular pela ideia de que o destino precisa de um empurrãozinho, que a teledramaturgia brasileira incorporou essa crença em suas tramas e personagens: a solteirona Dona Eponina (Rosi Campos), de Êta Mundo Bom, não desistiu de virar Santo Antônio no poço por anos – tanto tempo que o santo já estava até aceitando o novo lar – e conseguiu se casar para conhecer o famigerado “cegonho”; já Mirna (Fernanda Souza), de Alma Gêmea, fez oração, promessa e até ameaçou o coitado do santo para achar um marido, encontrando, assim, o seu príncipe encantado… a irreverente Sueli (Andrea Beltrão), de Tapas e Beijos, tinha “DR” com o santo em quase todo episódio e, junto com sua amiga Fátima (Fernanda Torres), ainda botaram despacho para conseguir ficar com seus amados Jorge (Fábio Assunção) e Armane (Vladimir Brichta)…
Então, que essas personagens, com suas simpatias inusitadas, promessas fervorosas e conversas improváveis com o além, sirvam de inspiração para manter viva a chama da esperança em busca do amor. Porque, no fundo, todo mundo tem um pouco de Dona Eponina, de Mirna, de Fátima ou de Sueli — e se for para encontrar a sua metade da laranja, tudo é válido. Afinal, quando o coração acredita, até o destino resolve colaborar.
O empurrão do destino para viver um dos sentimentos humanos mais intensos mistura um quê do Brasil que une crença e cultura, ritmos, ancestralidade e aquele toque de encanto que só quem acredita na força do universo pode compreender. É este o assunto desta reportagem. Pegue o papel e a caneta, confira se a lua está cheia e se prepare para encontrar a simpatia para o seu amor.
Crédito: Camila Silva e Cristina Jardim

Histórias de Quem Fez: Fé, insistência & um pouco de ousadia
As simpatias amorosas são muito mais que simples rituais, elas são um retrato do povo brasileiro, um povo de fé, insistente, que sempre tem um jeitinho para conseguir o que quer, às vezes, um jeito um pouco audacioso, mas que sempre funciona. Pessoas como Joana Fernandes (pseudônimo), uma mineira que levou uma vida repleta de simpatias e rituais, e a jovem Denise Pereira, que cresceu em um lar, onde a devoção por Santo Antônio foi cultivada desde a infância, são exemplos reais de como, às vezes, é preciso dar uma forcinha para o destino achar o seu amor.

Dona Joana Fernandes: Uma Vida de Simpatias
Aos 61 anos, Dona Joana se define como uma devota fiel das simpatias amorosas. Casada há 40 anos, ela atribui o sucesso dessa união às “gambiarras com o universo”.
“Se tem uma coisa que já fiz muito nesses 61 anos de vida foram simpatias”, confessa Joana, em tom divertido. “Se eu ficava interessada por um homem eu já ia logo fazer uma simpatia pra pegar ele. Se eu via que o homem era um pão, eu ia atrás, até simpatia pra pegar o ‘crush‘ de amiga eu já fiz.”
Para ela, o funcionamento de uma simpatia se baseia na crença.
“Claro que funciona, já tive vários namorados assim. Claro que tem que acreditar pra funcionar. Eu já fiz muita simpatia que não funcionou, porque não estava tão interessada assim no homem ou fiz duvidando”, afirmou.
Ela recorda de uma tentativa frustrada na sua juventude, aos 15 anos, quando tentou replicar a “garrafada” de um suposto rezador, que era chamado na cidade de “Anjo”, mas na verdade era um farsante. “O único resultado que tive foi uma caganeira”, relembra, caindo na gargalhada.
Créditos: Imagens geradas através da Inteligência Artificial Copilot
Entre os rituais que deram certo, Dona Joana destaca o que resultou em seu casamento com o Sr. Cicero (pseudônimo). Ela conta que se apaixonou por ele à primeira vista, mas na ocasião ele estava namorando sua amiga. Nesse momento, lembrou da sua avó contando a simpatia que fez para conquistar seu avô e decidiu replicar. Mas, para isso, Joana precisava conseguir uma cueca vermelha do seu amado.
A aventura para conseguir a peça de roupa incluiu pular um muro com cacos de vidro e até um encontro inesperado com um coveiro bêbado. No dia seguinte, a cueca foi usada em uma simpatia com açúcar, mel e os nomes escritos, guardada debaixo da cama por oito dias. “Foi tiro e queda, no oitavo dia ele já tava caidinho por mim”, garante dona Joana. Mas como ele demorou a fazer o pedido de casamento, outra simpatia foi acionada, e o escolhido da vez foi Santo Antônio: “Peguei Santo Antônio, virei de cabeça pra baixo dentro de um copo com pinga e falei para ele: ‘O senhor vai ficar bêbado aí, até fazer ele casar comigo’.” Passaram-se dois meses e, enfim, o pedido veio.
Para Dona Joana, as simpatias não são um ato de desespero, mas sim “muita sabedoria acumulada”. Para defender essa crença, ela destaca uma fala da sua avó: “Se o café não adoça, joga uma simpatia e uma rapadura; se o biscoito de queijo não cresce, cê faz uma reza forte; se o homem não responde, você pede pra Santo Antônio. Tudo tem jeito, só precisa saber fazer uma gambiarra com o universo.”
Créditos: Imagem gerada através da Inteligência Artificial Copilot

Denise Pereira: A Fé em Santo Antônio
A professora Denise Pereira, devota católica desde a infância, é uma prova de que a fé pode guiar a busca pelo amor. Desde criança, sua avó a incentivava a rezar para Santo Antônio. “Fui criada naquele ritmo ali de rezas, de frequentar a casa das pessoas”, disse Denise.
Ela não vê a simpatia como um ato de ansiedade, mas sim de crença e uma forma de dar aquele “empurrãozinho” no destino. “Para quem tem fé, para quem acredita, é mais uma convicção de que Santo Antônio, ele vai interceder para que você encontre um amor”, mas frisa que isso depende da fé que a pessoa tem; para quem não acredita, mas faz a oração, essa é mais uma forma de “agilizar o processo”.
Denise conta que depois de alguns relacionamentos frustrados, resolveu comprar uma imagem de Santo Antônio e rezava para ele todos os dias. Durante o mês de junho, quando se celebra o santo casamenteiro, participava da trezena de Santo Antônio, um ciclo de 13 dias de orações, rezando o terço e participando de ofícios na igreja, sempre com o objetivo de encontrar um bom rapaz. “Funcionou tanto que o Santo Antônio que eu tinha lá na casa de minha mãe, ele quebrou no dia do meu casamento”, afirmou Denise. Ela e seu marido completam 3 anos de casados em julho, e não hesita em recomendar a trezena: “Santo Antônio não falha!”
Créditos: Imagens geradas através da Inteligência Artificial Copilot
O que dizem os santos…

Créditos: Camila Silva e Cristina Jardim
Resolvemos dar uma mãozinha para Santo Antônio e ajudá-lo a dividir essa demanda. Se você, leitor, também anda precisando de uma ajudinha divina no amor, confira abaixo outros santos casamenteiros que podem entrar em ação e permitir que nosso querido “Toninho” tire umas merecidas férias!
Créditos: Camila Silva

Crença e cultura
Atrelado às representações simbólicas, que são objetos utilizados conforme a intenção, a exemplo de velas e incensos, e à elementos da natureza, como folhas e cristais, as simpatias são processos ritualísticos de menor complexidade quanto a forma e a técnica, se comparadas com amarrações ou trabalhos espirituais. Para tanto, é preciso que a pessoa interessada deposite fé e força mental no procedimento para realização do seu desejo, seja prosperidade, dinheiro, saúde ou amor.
Estas simpatias são saberes populares, e são importantes na vida e na história do povo brasileiro, além de orientar e dar sentido na vida das pessoas. Elas são passadas de geração a geração de maneira informal e, apesar de não terem caráter científico, têm uma lógica de ser e existir.
Há registro desses processos ritualísticos desde o período colonial do Brasil e é um resultado da partilha de elementos culturais entre os colonizadores e os povos colonizados e escravizados, como explica o antropólo e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Wilson Penteado doutor em Antropologia Social pela Unicamp. “É o resultado histórico de uma série de interações sociais com esses diferentes grupos culturais, étnicos, também marcados pela violência, mas também resistiram, criaram coisas a partir de processos de inventividades, e as simpatias são resultados disso tudo”, disse.
A origem de uma das devoções mais populares do país – a de Santo Antônio – tem origem na colonização. O antropólogo afirma que Santo Antônio, santo católico conhecido como casamenteiro, chega ao Brasil graças a influência portuguesa; era adorado por parte dos negros escravizados por ser considerado um santificado muito poderoso. No sincretismo religioso , sua correspondência é o orixá Ogum no estado da Bahia.
Outra característica comum a todos os saberes populares, apontou Penteado, é o fato de serem dinâmicos e não permanentes no tempo, o que os tornam diferentes com o passar dos anos. “Os estudos dos historiadores vão mostrar que há sempre sensíveis mudanças, não só de um século para outro, mas muitas vezes de uma década para outra. A maneira como se faz uma determinada prática numa década, não necessariamente é da mesma forma que se fez na década seguinte e assim por diante. O que eu estou querendo dizer com isso? Que a cultura é dinâmica, a cultura não para no tempo. A cultura sempre se modifica; não há cultura que permaneça estática”, afirmou.
Apesar das mudanças, o professor complementa que as práticas nunca deixam de existir, porque o que importa na manutenção desse saber popular é a referência e a tradição que carregam. O mesmo ocorre em relação às simpatias.. Mesmo no momento atual, em que os relacionamentos amorosos passaram a ter outras dinâmicas com estabelecimento de redes sociais e aplicativos de relacionamento, a tradição permanece em mutação, sempre se adaptando.
“Mas o que nós sabemos é que as coisas se modificam ao longo do tempo. Então, claro que com a chegada das redes sociais e de tudo mais, nós temos mais modificações, mas isso não quer dizer que sejam as primeiras modificações. Até porque quando a gente fala em tradição, tradição tem muito mais a ver com a crença que as pessoas têm sobre aquilo ser tradicional”, complementou.

O que diz a ciência
Dois estudos realizados pelos pesquisadores André Souza e Christine Legare, publicados em 2012 e 2013, respectivamente nas revistas Cognition e Cognitive Science, e divulgados em matéria da revista Veja em seu site em 2013, tiveram como intuito compreender quais elementos fazem com o indivíduo considere uma simpatia eficaz e demonstrar como a sensação de falta de controle fortalece a crença nas simpatias.
O primeiro estudo foi realizado com 162 brasileiros e outros 68 estadunidenses, os quais tiveram que responder uma escala de 0 a 10 o quanto acreditava que a simpatia criada pelos pesquisadores seria eficaz. Os resultados mostraram que as pessoas consideram mais confiáveis as simpatias que têm frequência, repetições e detalhamentos, pois, conforme o pesquisador, esses fatores geram confiabilidade por parte do indivíduo sobre o processo ritualístico, já que não é possível compreender a relação de causa e efeito.
No segundo estudo, 40 brasileiros e 90 estadunidenses foram divididos em três grupos que deveriam formar frases com palavras pré-determinadas, porém um grupo recebeu palavras que pareciam aleatórias, outro com palavras de sentido negativo e o terceiro com palavras neutras. E, por fim, todos receberam simpatias que seriam avaliadas.
Neste caso, o resultado foi que o grupo de pessoas que receberam palavras que remetiam a aleatoriedade avaliaram as simpatias como mais eficazes do que os demais grupos. Souza explica que isto ocorre porque a sensação de falta de controle cognitivo faz com que as pessoas acreditem mais na simpatia, pois a consciência tenta compensar a ausência.
A psicóloga Rosane dos Santos, ao abordar sobre os processos cognitivos relacionados à realização de simpatias do amor, explicou que essas simpatias podem significar para aqueles que a realizam uma possibilidade para alcançar seu objetivo pautado em expectativa e idealização. Ela comentou como a Psicologia trata essa questão:
“Então, ciência é ciência, mas a Psicologia não ignora o que o indivíduo traz como crença. A gente não é uma coisa só. Nós somos bio, psico, emocional e social. Então, se o indivíduo traz para a clínica uma crença, crê piamente que aquela magia vai funcionar, a Psicologia vai trabalhar de forma muito respeitosa de como ele se vincula àquela espiritualidade”, disse a psicóloga Rosane dos Santos.
Rosane ainda complementa que as reações que o corpo tem ao realizar as simpatias. “Porque o efeito placebo ele vai endorfinar. É a liberação de neurotransmissores. É então isso faz com que o indivíduo se movimente para aquela situação e se conecte ao seu favor”, complementou.
Nesse sentido, Rosane explica que há estudos relacionados que demonstram que a fé e a espiritualidade contribuem positivamente no tratamento de pacientes, haja vista que ocorre uma melhora no funcionamento cerebral do indivíduo. O mesmo acontece na mente humana no que se refere às simpatias. Por fim, ela esclarece as mudanças comportamentais que ocorrem graças a transformação na percepção do indivíduo. “É a mudança de lente. Porque se eu faço um movimento para buscar um amor, logo o meu comportamento, meu olhar, minha percepção, vai mudar”, pontua.
A terapeuta integrativa e consteladora sistêmica, Jamille Castro, também abordou sobre a modificação comportamental relacionada às simpatias . Ela afirma que toda a movimentação, que inclui a compra dos itens necessários, o preparo e a realização do processo ritualístico em si, torna o indivíduo mais aberto e atento à questão amorosa, o que pode resultar no início de um relacionamento amoroso.
“Tudo isso é você colocando sua atenção na vida afetiva, materializando suas intenções. A partir desse movimento, que é interno, a partir da mobilização de sua própria energia em direção ao tema, pode ocorrer de você ficar mais receptiva(o), mais disponível, mais atenta(o) aos sinais e ‘acontecer’ o surgimento de um relacionamento”, disse terapeuta integrativa e consteladora sistêmica, Jamille Castro.
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