Por Daiane Arllin
A Roça de Ventura, como é conhecido o terreiro Zô Ôgodô Bogum Malê Seja Hundê, santuário religioso de matriz africana da nação jêje marrin, é um dos mais antigos terreiros de candomblé da Bahia e está sendo ameaçado pela especulação imobiliária.
Parte da área da Roça de Cima, que deu origem ao terreiro, vem sendo desmatada para dar lugar à construção de um loteamento residencial.
O terreiro foi fundado por africanos ainda no século XIX, e de acordo com a prática religiosa da nação jêje marrin, há uma relação sagrada com a natureza e seus elementos. Além disso, trata-se do único terreiro de candomblé vinculado a essa nação do país.
Área sagrada
A Roça de Cima é uma área de 12 hectares, que pertence à Fazenda Altamira, localizada na Ladeira da Cadeia. Existem algumas árvores em seu entorno e os assentamentos sagrados, onde ainda são feitas as obrigações ao ar livre.
Segundo Tailane Reis, filha-de-santo do terreiro, várias árvores centenárias e sagradas no culto aos voduns foram arrancadas pelas máquinas e, além disso, a Lagoa de Nanã foi aterrada.
Tombamento ameaçado
Para o povo-de-santo, embora esteja numa área particular, a Roça de Cima é uma área considerada sagrada e deve ser preservada. Há cerca de dois anos, o Terreiro entrou com processo de tombamento no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), como forma de garantir e valorizar práticas religiosas ancestrais, bem como sua liberdade religiosa.
No último mês, o Iphan enviou técnicos ao local e notificou o proprietário da Fazenda Altamira, Ademir Passos. No entanto, as obras não foram paralisadas. O dono não foi encontrado para dar entrevista ao Reverso Online.
Para o antropólogo Xavier Vatin, a destruição da área do terreiro é uma grande perda para o município de Cachoeira, tanto para o turismo, que tem como atrativo os terreiros de Candomblé, quanto para a comunidade de santo.
De acordo com laudo arqueológico, a destruição do local foi estimada a uma superfície equivalente a 20 campos de futebol, de uma terra rica em vestígios arqueológicos, de grande valor simbólico e religioso para o povo-de-santo, que conseguiu manter, ao longo dos séculos as suas raízes religiosas de matriz africana.