Sem curtidas: a influência das redes sociais na saúde mental de jovens mulheres

Por Cathy Arouca, Lorena Carneiro, Marcus Maia e Rafael Cerqueira

Entre fotos e mais fotos no feed, um padrão se multiplica. No Instagram, com os likes e uma competição silenciosa de quem tem mais seguidores, se estabelece uma norma estética, que soa necessária para aqueles que querem entrar na sociabilidade.

De acordo com dados divulgados pelo próprio Instagram em 2018, a rede social atingiu a marca de um bilhão de usuários únicos mensalmente. Desse número, ao menos 19% são mulheres que têm entre 13 e 25 anos de idade. Um período onde essa padronização pode trazer sérios danos à saúde mental.

Era o caso de Geovanna Moreira, que começou a usar as redes sociais quando tinha apenas 13 anos de idade. No início, segundo ela, as redes a comandavam. “Com 13, 14 anos, quando comecei, não conseguia ficar cinco minutos sem. A rede social ditava tudo na minha vida; que roupa eu ia vestir, pra onde eu ia sair”.

Atualmente com 20 anos, Geovanna ressalta que, de lá pra cá, as coisas mudaram bastante. “Hoje eu posso considerar minha relação com a rede social tranquila. Agora ela não interfere praticamente em nada. Uma vez ou outra sigo algumas dicas postadas nelas, mas nada que me faça mal”.

De acordo com Ana Paula Bahia, psicóloga (CRP 03/IP 17768), a adolescência é um período perigoso para o uso intenso das redes sociais pois se caracteriza com uma fase de construção de identidade.

“O fato de a adolescência ser a fase na qual os sujeitos encontram-se em maior vulnerabilidade aos riscos do mau uso das redes sociais, está associado ao fato de ser uma fase na qual o adolescente busca construir sua identidade e sua independência em relação aos pais.”.

“Os adolescentes, especialmente as meninas, tendem a apresentar preocupações com o peso corporal por desejarem um corpo magro e pelo receio de rejeição, constituindo um grupo mais vulnerável às influências socioculturais e à mídia”, concluiu Ana Paula.

Essa insegurança, aliada à constante reafirmação de padrões por atrizes, cantoras e digital influencers presentes nas redes sociais, pode causar sérios danos à saúde, tanto mental quanto fisicamente. Aplicativos de edição de fotos se multiplicam na mesma medida que transtornos psicológicos como ansiedade, baixa auto-estima além de complicações físicas, que vem como consequência de transtornos alimentares como a anorexia e bulimia.

O contraponto também existe

Enquanto se dissemina a cultura de beleza da Grécia Antiga, com socialites como Gabriela Pugliesi, há outra massa na internet nadando contra a corrente e quebrando esses padrões. Ana Paula define como “… um movimento de mulheres e mesmo muitas adolescentes que não têm aceitado docilmente a imposição dos padrões estéticos rigorosos. Seja porque exigem a adoção de um estilo de vida que torna esse padrão inalcançável, ou seja, porque já se reconhece o desgaste à saúde física e mental que a busca por esse padrão provoca.”.

Daylane Cerqueira, 30 anos, é uma das participantes desse movimento. Produtora de moda, ela atualmente vive em São Paulo. O fato de trabalhar num ambiente cercado por padrões estéticos a fez ter uma percepção bastante crítica do impacto deles na vida e no corpo das meninas.

“As mulheres vivem em constante sentimento de inadequação. Já trabalhei com meninas extremamente magras que faziam jejum intermitente por 36 horas para poder emagrecer mais. Meninas com distúrbios alimentares seríssimos. Tudo em busca do ‘corpo ideal’”.

Ela é usuária assídua das redes sociais, principalmente do Instagram. Afirma que já viveu uma fase em que ficava com receio do que postar, mas que hoje em dia isso não é mais uma grande preocupação.

“Tento, em minhas redes, falar sobre amor próprio e como eu redescobri o meu. Que sim, não é fácil, mas que dá para construi-lo no dia a dia. Falo sobre ser mais gentil consigo mesma e o quanto é importante se escutar e entender o que faz bem ou mal”.

No trabalho, Daylane também tem buscado transformações. “Hoje em dia tenho feito muitos trabalhos com mulheres gordas, para marcas plus size, corpos reais. Em nenhum momento se está incentivando a obesidade, a ideia é mostrar que também há beleza neses corpos em que o mundo insiste em dizer que são feios. E é possível se amar sem ser magra”.

“Aos poucos, esses padrões estão sendo destruídos e cada mulher tem entendido, no seu tempo, que está tudo bem ser do jeito que se é”, conclui.

Isa Roth é outra participante dessa onda de mulheres que buscam quebrar os padrões. Formada em música pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Isa é cantora, blogueira, modelo e usa as redes sociais como forma de passar uma mensagem para si mesma e para as pessoas que a seguem. Confira o relato dela sobre sua relação com as redes.

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