A internet e o jornalismo digital

Um relato sobre a evolução do jornalismo e a inserção dos meios digitais como mediador dos canais de comunicação

Manuela Paulino 

Outro dia estava eu, jornalista, em um bar com amigos, como fazemos toda sexta-feira, no fim do expediente, quando começou o assunto polêmico.

–   Vocês acham que a profissão de jornalista vai acabar? – disse José, estagiário da redação há dois meses.

– Hoje em dia todo mundo escreve o que quer, cria blog, canal no YouTube, produz conteúdo no Instagram. Cada vez mais os influenciadores digitais estão tomando conta da internet, dando opiniões em todos os tipos de assunto, alguns até mesmo sem fundamentos.

Eu falei: Com certeza, não! Cada dia que passa a profissão está apenas se reinventando e evoluindo para acompanhar o atual jornalismo digital e as redes sociais. 

O meio digital permitiu que toda e qualquer pessoa possa produzir conteúdo para as redes sociais, sites, blogs e qualquer outro meio de comunicação. Porém, para produzir conteúdo essencialmente jornalístico para a internet é preciso ser um profissional do meio da comunicação, ou seja, um jornalista. Mesmo porque estamos cada vez mais rodeados de informações incorretas.

Precisamos cada vez mais de jornalistas experientes e capacitados para verificar a credibilidade dos veículos de informação ou se o autor apurou realmente aquela notícia. 

Não é em vão que a disseminação de fake news causa verdadeiros estragos propagando mentiras que interferem na seriedade dos acontecimentos que precisam ser repassados para a sociedade, além de prejudicar a vida de inúmeras pessoas, tanto pessoal, quanto profissionalmente. 

As fakes news se popularizaram principalmente a partir da eleição presidencial norte-americana de 2016. Recentemente, em 2021, as inúmeras mentiras sobre a eficácia da vacina contra a Covid-19 fizeram com que muitas pessoas desistissem da vacinação. 

Por isso, é sempre muito importante que as agências de comunicação, juntamente com os portais de notícia com jornalistas especializados e aptos verifiquem rigidamente a veracidade das informações. 

A disseminação da informação precisa e muito da presença de jornalistas de qualidade para produzirem conteúdos de qualidade. O jornalismo digital é relativamente recente. Nasceu em 1981, nos Estados Unidos, quando o jornal Columbus Dispatch, disponibilizou todo conteúdo da edição diária na rede.

Histórico e especificidades

No Brasil, a versão on-line do tradicional Jornal do Brasil foi o formato que abriria caminho para os grandes portais noticiosos que existem até hoje. Torna-se cada vez mais frequente encontrarmos os maiores jornais utilizando o Instagram como uma das plataformas essenciais para divulgação de seus conteúdos.

Os jornais da época apenas reproduziam no on-line a mesma notícia que estava publicada no meio impresso. A partir daí algumas experiências começaram a ser feitas e alguns jornais a serem mantidos pelas empresas digitais. 

É interessante que, ao contrário do que pensadores e teóricos da comunicação pensavam na época, o jornalismo on-line não aboliu os outros tipos de jornalismo, pois suas especificidades apenas agregaram valor a outros meios trabalhando de forma integrada a eles. 

No Brasil, os pioneiros em desenvolver uma versão digital da notícia foi o Grupo O Estado de São Paulo que, em fevereiro de 1995, colocou a Agência Estado na rede mundial. 

No dia 28 de maio do mesmo ano, o Jornal do Brasil foi o primeiro veículo a fazer uma cobertura completa no meio digital, seguido por outros títulos da grande imprensa, como O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Globo, O Estado de Minas, Zero Hora, Diário de Pernambuco e Diário do Nordeste. 

E assim o jornalismo on-line na internet veio crescendo e se expandindo nas plataformas digitais. A inserção do Twitter e o Instagram, por exemplo, fez com que se tornassem também o principal meio de divulgação de alguns jornalistas independentes.

Seguindo esse caminho, os portais começaram a produzir conteúdos jornalísticos em larga escala percebendo que era preciso fabricar um produto específico para a internet aproveitando ao máximo as possibilidades de conteúdo e inovações trazidas com os hiperlinks. Por exemplo, dentro de uma notícia sobre um fato em alguma cidade específica, o leitor poderia acessar outras notícias sobre temas semelhantes, apenas clicando no link da página.

Com as hiperligações, o leitor poderia se aprofundar também sobre determinado tema além de ter informações atualizadas em tempo real.

Desse modo, os textos curtos (prévia) continuam sendo essenciais quando são inseridos nas mídias sociais dos jornais junto com a imagem dos acontecimentos. Esta agilidade e amplitude de conteúdos favorecem o leitor e a credibilidade dos jornais pois as informações chegam em menor tempo para o telespectador ou até mesmo em tempo real.

Deste modo, o jornalismo na internet trouxe a possibilidade de as pessoas se informarem de maneira rápida e direta sobre o que acaba de acontecer ou o que está acontecendo no mundo

Desde então, o jornalismo on-line vem se consolidando como uma verdadeira ferramenta de informação ágil, dinâmica e personalizada. Além disso, este novo formato de comunicação trouxe uma verdadeira revolução para o jornalismo mundial. 

Graças ao hipertexto, ou seja, o texto dentro de outros textos, a narrativa jornalística ganhou um novo viés, tanto na forma da escrita, quanto na forma de leitura

Apesar de não ser uma narrativa linear, o formato jornalístico da matéria continua o mesmo, com as repostas às perguntas essenciais que irão informar o leitor: o quê, onde, quando, como e por quê. A técnica tradicional da pirâmide invertida continua principalmente para os textos curtos que são utilizados no jornalismo on-line. 

Neste mundo tão dinâmico em que vivemos hoje, o que faz com que as pessoas se informem cada vez mais pela internet, é justamente a possibilidade de ter a informação fresca, assim que acontece. Por isto é importante que o conteúdo tenha a sua credibilidade analisada para que não se consuma a informação falsa e prejudicial. 

Essa era informativa faz com que os jornalistas aprendam a selecionar e analisar as informações relevantes e verdadeiras em um número inquantificável de sites. 

Outras especificidades, além do hipertexto no jornalismo digital são: a interatividade, customização de conteúdo, multimidialidade e por fim a instantaneidade que permite sempre a atualização da notícia. Estas características vieram apenas para serem somadas ao jornalismo tradicional adequando-se a uma nova realidade contemporânea. 

Com o grande bombardeio de informações trazidas com a instantaneidade da internet, o grande dilema é sempre analisar as fontes para se fazer um jornalismo on-line de qualidade que respeite a veracidade da informação. 

Informação rápida e direta

Para quem não sabe, o termo internet se baseou na expressão inglesa “Interaction or Interconnection between computer”. Nasceu em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, como uma forma de entreter a sobrecarga de informações, fruto da explosão das pesquisas durante os anos em que o mundo esteve em conflito. 

Vannevar Bush, que na época era chefe da organização que coordenava o esforço de guerra dos cientistas norte-americanos, percebeu que era necessário criar uma solução para a quantidade de produção de informações, o que em breve iria provocar uma dificuldade para organizar.

A internet permitiria que a comunicação chegasse a um maior número de pessoas no mundo todo oferecendo notícias, entretenimento, serviços e negócios

Por essas características, o jornalismo digital, ao lado da televisão, ocupa uma forte posição como formador de opinião e desta forma ainda é um dos principais meios em que as pessoas buscam informação no Brasil, hoje.

Portanto colocar um site on-line no ar não é fácil e requer muitas habilidades do jornalista que muitas vezes trabalha em parceria com um programador e webdesigner. 

Deste modo, o jornalismo na internet trouxe a possibilidade das pessoas se informarem de maneira rápida e direta sobre o que acaba de acontecer ou o que está acontecendo no mundo.

Finalizando, o especialista em Tecnologia e Comunicação, Wilson Dizzard cita a antevisão de Paul Saffo, pesquisador adjunto do Institute for the Future de que o papel não vai desaparecer, mas a mídia sem papel absorverá mais do nosso tempo. Isso já podemos perceber!

José saiu da mesa aliviado tendo a certeza de que seu emprego por ora está garantido. 

REFERÊNCIAS

ALVES, José Augusto dos Santos. O Poder da Comunicação. A história dos media dos primórdios da imprensa aos dias da internet. Cruz Quebrada: Casa das Letras, 2005 Apud RODRIGUES, Catarina. Blogs e a fragmentação do espaço público. Entrevista realizada por Carlos Castilho em 11/01/2005 para o site Observatório da Imprensa feita por correio eletrônico.

BAHIA , Juarez. Jornal, História e Técnica : história da imprensa brasileira. São Paulo : Ática, 1990.

Internet, jornalismo e weblogs: uma nova alternativa de informação. Niterói. 2003.

CANAVILHAS, João Messias. Webjornalismo – Considerações gerais sobre jornalismo na web.