O parasitismo dos guarda-roupas 

Antes as tendências se transformavam com as estações, agora as novidades no guarda-roupa mudam mais rápido ainda e nós tentamos acompanhar todas essas atualizações

Maria Júlia Veloso

Os ciclos são cada vez mais rápidos e estamos consumindo mais, tanto no que diz respeito a conteúdos e informações, como em relação ao consumo financeiro em si. O sociólogo Zygmunt Bauman já havia expressado em seus estudos sobre como somos devorados pelo capitalismo, em seu livro Capitalismo parasitário e outros temas contemporâneos, de 2009. Bauman compara o capitalismo a um parasita que está sugando nossa vitalidade e, até mesmo, nossa humanidade. O parasita do consumo está presente em todas as esferas da sociedade, até mesmo nas que, às vezes, passam despercebidas, a exemplo da moda.

Na moda as coisas sempre foram passageiras, antes as tendências vinham com as estações, então, durante um ano você tinha, aproximadamente, quatro tendências. Pode não parecer, mas é muito para um intervalo de tempo de apenas doze meses. Agora, as tendências viraram trends em redes sociais, com uma enxurrada de vídeos e fotos todo dia, e os ciclos são ainda mais curtos e momentâneos.

A substituição acelerada de roupas e acessórios pode ser chamada de fast fashion, ou “moda rápida”, se traduzirmos. O conceito refere-se à produção e descarte acelerados de roupas, surgiu por volta dos anos noventa e agora está sendo muito debatido. As novas tendências e indicações de influenciadores nas redes sociais estão impondo uma maneira de consumir quase que irracional, com um estilo empurrado através das telas de nossos celulares.

Quando se trata da produção, a fast fashion opera com rápidas confecções e vendas a baixo custo. O preço disso é o barateamento da mão de obra e o material de baixa qualidade, o valor das peças é positivo para os clientes, já que nem todo mundo pode se dar ao luxo de gastar muito com roupas. Outro ponto que favorece a clientela é a possibilidade de poder estar na moda sem sacrificar parte da sua renda. Em contrapartida, com a evolução e rapidez das trends nas redes sociais e as propagandas cada vez mais específicas, em poucos dias a peça que era tão cobiçada é substituída por outra. No final das contas, grandes corporações lucram com tudo isso enquanto somos jogados de uma tendência para outra antes mesmo da fatura do cartão fechar.

Foi a partir dessa problemática que começaram a popularizar outras maneiras de consumir, que combatem a produção e descarte acelerados. É uma nova maneira de fazer moda, buscando agir com ética e responsabilidade ambiental. Então, as roupas são feitas de tecidos que foram descartados pela fast fashion e podem ser reaproveitados ou são produtos vendidos de segunda mão ou até mesmo de pequenos ateliês, com peças idealizadas e costuradas por uma pessoa só. Por conta dessa produção cautelosa, as peças não são feitas para serem consumidas rapidamente, são planejadas para ter uma longa duração. Como nem tudo são flores, o ponto negativo dessa vez é o preço, por ser uma produção mais cuidadosa, às vezes, os valores são mais elevados. Uma boa alternativa são os brechós e os bazares. São realizadas vendas de peças de segunda mão e muito bem conservadas com um valor acessível e estão se popularizando cada vez mais com o crescimento das redes sociais.

As propagandas que recebemos em nossas redes sociais são específicas para cada nicho, é como se tivéssemos voltado à época do vendedor que vai de porta em porta, estamos diante de muitas ofertas e muitas mudanças. Sentimos a sensação de que algo está errado se ficarmos parados ou não aproveitarmos uma oferta nova, mesmo sem necessidade. O consumo está presente em cada minuto do nosso dia e consegue, até mesmo, tirar a nossa autonomia para a escolha do que vestir ou calçar.