Como a disseminação de fake news pode influenciar as eleições de 2018 no Brasil?

Por Jaqueline Ferreira e Rachel Mercês

Em pleno cenário de caos econômico que antecede as Eleições 2018, com o país polarizado politicamente e com a recente greve dos caminhoneiros, se faz necessário reacender o debate sobre as fake news, ou notícias falsas, tendo em vista seus possíveis impactos para o futuro da política brasileira.

Para falar de fake news, precisamos voltar ao passado. Pelo que se tem datado, desde o Brasil Colônia a disseminação de informações falsas ou caluniosas, principalmente contra políticos e figuras públicas, faz parte do jogo de interesses quando se tem algo a ser conquistado. Na Europa do século VI, pasquins e gazetas já alimentavam rumores e elaboravam conspirações. A função das notícias maliciosas é de subverter o imaginário do leitor acerca da índole ou conduta de alguém, ocasionando dessa forma, o declínio ou a glória da imagem do personagem em questão.

Mas e na era digital? Como frear o compartilhamento de informações falsas em um meio tão rápido e volátil quanto a internet?

A recente greve dos caminhoneiros, que parou o Brasil na última semana do mês de maio, trouxe à tona a importância de se discutir o compartilhamento massivo de informações pelo WhatsApp. Toda a mobilização e articulação da greve foram feitas no aplicativo, bem como o repasse das notícias para os veículos de comunicação. Na plataforma, as informações podem ser transmitidas entre perfis individuais, contudo a maior divulgação se dá através dos grupos, em especial, os que contém membros da família. 

Se por um lado o aplicativo permite maior autonomia e facilita a comunicação entre as pessoas, por outro, provoca um fenômeno de compartilhamento em cascata, onde nunca se conhece o autor original de uma mensagem. Cada grupo suporta em média, 256 membros. Isso dificultou bastante o diálogo entre as lideranças já que a todo momento, em diversas partes do país, notícias falsas eram espalhadas.

Segundo pesquisa promovida pela Digital News Record, 66% da população brasileira usa as redes sociais como principal fonte de informações, sendo o WhatsApp a segunda maior referência do brasileiro quando busca notícias online (no Brasil, 60% da população [120 milhões de pessoas] usam o aplicativo para se informar.

O problema do Whatsapp é que além de não haver um escritório no Brasil que resolva as demandas específicas, o aplicativo não possui regras nem leis em relação ao seu uso. É impossível quantificar o número de pessoas que tiveram acesso a uma notícia na rede social por exemplo pois, através dos grupos, os compartilhamentos acontecem de forma desenfreada e atingem proporções nunca antes vistas em um aplicativo de telefone celular.

O Facebook, em contrapartida, passou a adotar medidas que visam frear a proliferação de fake news em seu domínio. Através de parceria recente com agências de checagem, a rede social adotou um novo algoritmo que consiste em diminuir o alcance de uma notícia declarada falsa, não apagando, contudo, a sua presença da plataforma.

As fake news também viraram pauta em março desse ano, quando após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), inúmeras notícias caluniosas foram espalhadas a seu respeito. Os boatos variavam entre associação com o crime e o tráfico de drogas e até de um suposto casamento com Marcinho VP. É preciso se atentar para o fato de que a tentativa de deslegitimar a carreira política e a vida pessoal de Marielle é uma estratégia recorrente no cenário político atual. Uma manobra muito bem pensada e arquitetada com o objetivo de desmerecer a imagem da vereadora perante o público. Após a avalanche de notícias falsas, familiares de Marielle se mobilizaram em prol de desmentir as calúnias.

A saída, portanto, é tentar barrar a desinformação justamente com o inverso: a massificação de informações verídicas.

Agências de fact-checking como a Lupa e o projeto Truco da Agência Pública, querem democratizar o debate político com o uso da checagem, ou seja, a apuração feita com informações reais obtidas em grandes bancos de dados, com respaldo e confirmação factual.

A Agência Lupa, em parceria com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) promove durante o ano de 2018 oficinas presenciais e a distância que têm como objetivo detectar informações inverídicas durante as eleições, bem como apontar o caminho correto na cobertura deste tema. O intuito desse tipo de iniciativa é elevar o debate político através de algumas ferramentas simples, mas bem úteis na hora de avaliar se uma notícia é verdadeira.

Como saber se uma notícia é falsa?

Talvez a mais importante das lições seja: não compartilhe uma notícia após ter lido somente a manchete. É justamente aí onde as fake news agem de forma mais ferrenha. Através de uma manchete curta, com o uso de hipérboles e declarações exageradas, as notícias se tornam verdadeiros ‘caça-cliques’ e encontram terreno fértil para serem compartilhadas de forma irresponsável (ex: médico do SUS solta bomba: surto de ebola no país). Na maioria das vezes, o corpo da matéria nada tem a ver com a manchete e tampouco comprova o que já foi espalhado de maneira indevida.

Checar a data e as fontes também é importante. Muitas notícias são descontextualizadas e repassadas com base em achismos, por isso, sempre procure a fonte original. Tendo como base o exemplo anterior, se verdadeira, a notícia seria veiculada pelos meios que a competem (Ministério da Saúde ou Governo Federal).

Cuidado com trolls e bots! Existem muitos perfis falsos circulando na internet que funcionam como uma espécie de engajadores de conteúdos mais falsos ainda.

Em tempos difíceis e de ódio exacerbado, é preciso se atentar para o fato de que as movimentações políticas são bem pensadas e arquitetadas com um objetivo próprio. Desinformar o eleitor em ano de eleições é uma estratégia política que enfraquece e polariza a população.

 

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