Curso de costura transforma vida de mulheres em São Félix

Projeto Coletivo das Artes teve início durante a pandemia e promoveu geração de renda com serviços de costura

Por Elenice dos Santos e Tamille Alcântara dos Santos

A pandemia do Covid-19 foi um dos períodos mais difíceis mundialmente nos últimos anos. Devido ao isolamento social, famílias tiveram que reinventar as rotinas, já que o grau de disseminação do vírus era elevado junto com o uso obrigatório de álcool gel e máscaras. O índice de desemprego cresceu. Com isso, o volume de empregos informais também aumentou.

Com o fechamento de lojas e empresas, foi gerado o desafio de pagar as contas e levar o sustento para casa. Através do trabalho informal, algumas pessoas passaram a ser vendedores ambulantes ou produzir produtos como: doces, máscaras, entre outros para vender.

Como forma de amenizar os efeitos da pandemia, foi implantada a lei Aldir Blanc, em junho de 2020, destinada ao auxílio do setor cultural para Estados, municípios e ao distrito federal para trabalhadores da cultura atingidos pela pandemia. De acordo com a diretora da secretaria de Desenvolvimento da Cultura de São Félix, Elba Matos, a partir do mapa cultural do município, foi possível a identificação e mapeamento da quantidade de pessoas e o cadastramento em formações e acesso aos recursos culturais.

Adelina Ferreira de Lemos, de 58 anos, foi uma das brasileiras que começou a trabalhar informalmente a partir de então. Ela mora em São Félix e aprendeu a costurar máscaras de pano. As irmãs que moram em Salvador, por conta do covid-19, vieram para o Recôncavo no período. O reencontro da família possibilitou também momentos de aprendizagem. Adelina ensinou-as a costurar e juntas, decidiram ensinar outras pessoas da comunidade. Ali se iniciou um projeto contínuo e a troca de experiências.

A artesã chamava  as pessoas de porta em porta para participarem das aulas de costura. De início, elas ficaram por um mês no espaço que já possuía. As mulheres se reuniam três vezes por semana e continuavam com três encontros semanais por nove meses.

Assim, surgiu o grupo Coletivo das Artes. No início, as mulheres aprenderam a costurar máscaras de proteção facial, mas surgiram ideias para outros tipos de costura como: bordados, consertos de roupas, carcela, entre outros serviços. Isso gerou renda e alívio para quem sofria com depressão, por exemplo.

Terezinha Maria Santos Leite Rocha, de 55 anos, é uma das alunas que quando iniciou as aulas, sofria com a doença. Ela agradece à iniciativa de Adelina, já que representou melhoras no quadro de saúde. “O grupo Coletivo das Artes é minha superação, a melhor terapia”. Além de aprender, Terezinha pôde passar o conhecimento para as novas turmas que surgiram. “Tem sido um desafio cuidar do próprio negócio, hoje eu tenho meu atelier e meu sustento através da costura”, diz Terezinha. Ela desenvolve trabalho de corte, costura e artesanato dando continuidade ao que aprendeu durante a pandemia.

Maíra Nascimento, 21, também é aluna do curso. Quem a ensinou costurar foi Terezinha e desde que aprendeu, a jovem segue no ramo de confecções e costura. O convite para costurar foi feito para a mãe, mas a mulher não pôde participar, então, matriculou Maíra e a irmã para participarem das aulas. Ela e a irmã estão no curso desde 2020. Maíra tem a própria loja online (@soumai) e é especialista em micro macrame, filtro dos sonhos, costura e bordado russo.

A pandemia para esse grupo de mulheres foi um momento de descoberta do que pode ser feito para passar o tempo e despertar novos talentos. Para Adelina, o momento difícil se resume em “gratidão”, pois naqueles meses conseguiu ver toda família reunida.

Uma das irmãs de Adelina, Solange Lemos de Almeida, de 54 anos, é cabeleireira. Durante a pandemia, teve que fechar o salão por quatro meses. Apesar de não saber costurar e não ter intimidade com a máquina, aprendeu a fazer reformas e roupas de criança. Quando retornou para Salvador com a reabertura do salão, dividiu as atividades em seis dias. Isto é, em três dias da semana se dedicava a costurar no próprio atelier e três dias para trabalhar no salão.

As aulas acontecem na cidade de São Félix, no bairro Varre Estrada. As mulheres utilizam a casa que um dos primos de Adelina cedeu para servir como atelier. Agora elas estão reformando a garagem da casa para ampliarem o espaço. A manutenção das máquinas é paga por um dos vereadores da cidade.

O período de aulas é de três meses. As participantes se reúnem uma vez por semana, as terças-feiras. O curso acontece de duas a três vezes ao ano. Toda ação do Coletivo das Artes é feita durante o curso e divulgada no @coletivodasartes_. O coletivo conta com apoio do departamento de Cultura de São Félix. A diretora do departamento conheceu o coletivo por meio das redes sociais de um colaborador das ações do coletivo.

De acordo com a diretora, o departamento de cultura está tentando concluir a elaboração de um projeto de capacitação para criação de peças com foco nas solicitações mais recorrentes do setor turístico. Este projeto pretende atender a estas demandas de artesãos e inclui o coletivo. 

Foto: Divulgação/ @coletivodasartes_