Por Lucas Neves e Adrielly Novaes
Na história de Feira de Santana há figuras conhecidas como Maria Quitéria, heroína que lutou contra os colonizadores portugueses na Guerra da Independência vestida de homem até ser descoberta e conquistar o direito de lutar como mulher e liderar um grupo feminino, além de outras personalidades que dão nome às principais avenidas da cidade. Porém existe ainda figuras como Lucas da Feira, que pouco se sabe e que habitam apenas o imaginário dos moradores da cidade.
Por volta do século XIX, Feira de Santana tinha sua economia baseada na pecuária e no cultivo de fumo e algodão, uma vez que a cidade está em uma região de transição entre o litoral e o sertão. Nesse contexto, em outubro de 1807, nasce Lucas Evangelista dos Santos, ou Lucas da Feira, como seria conhecido mais tarde. Nascido escravo na fazenda Saco de Limão, próximo ao distrito de São José. Com 21 anos, ele se rebela contra o sistema da época e foge. Tornou-se bandoleiro, liderou um bando com cerca de oito pessoas e aí a história ganha várias versões dependendo de quem conte.
Há quem afirme que Lucas da Feira foi uma espécie de Hobin Wood, que indignado com sua realidade, tirava dos fazendeiros ricos para dar aos pobres, que lutava pela causa da abolição ajudando outros escravos. Outros afirmam que nosso personagem não fazia distinção de classes e roubava de quem achava que deveria roubar. No livro Lucas da Feira de Inocêncio Marques são apresentadas as fases dos inquéritos policial e judicial, onde Lucas é acusado de crimes como roubo, latrocínio e tortura.
Como narrativa de uma figura histórica, não podemos isentar o contexto. A escravidão imperava. Um negro escravo que ousasse a se levantar contra aquele sistema estaria, de certo decretando sua sentença de morte e a pena de Lucas foi pautada pela moral de um judiciário elitista.
Incompreendido, para muitos historiadores Lucas da Feira é o símbolo da luta escravagista. Analfabeto, perseguido pela cor da pele, não havia muitas oportunidades além de ser resistência. 30% da população de Feira de Santana na época era de escravos. A luta de Lucas da Feira tomou um sentido social e outros escravos fugitivos viram nele um líder, a salvação, como afirma o jornalista e historiador Helder Alencar.
Lucas e o seu bando se tornavam um problema para os fazendeiros, que pediram sua cabeça, tinha que morrer para que não virasse exemplo. Foi perseguido, seus companheiros foram presos, mortos e espancados até que, por fim, Lucas foi entregue por seu compadre Cazumbá, que delatou seu esconderijo. Devido a um tiro dado pelo agora ex-amigo, Lucas perde um braço mas ainda consegue escapar. São dias escondidos no fundo da Fazenda Tapera, até que é encontrado e preso. No dia 25 de setembro de 1849, Lucas Evangelista é enforcado em praça pública.
Herói ou bandido, Lucas da Feira é uma figura apagada da cultura feirense devido todas as histórias atribuídas ao seu nome mas seu legado permanece até hoje como símbolo de resistência e luta.