A Guerra de espadas e o olhar da comunidade

Moradores expõem opiniões sobre a guerra de espadas em Cachoeira durante o período junino.

Por Clara Lins e Fellipe Moreira

 

Foto: George Almeida | @Cachoeirafotos

A guerra de espadas durante os festejos juninos é uma grande tradição na cidade de Cachoeira, recôncavo baiano. Ela também pode ser chamada de “Luta de Espadas”, e consiste na utilização de fogos de artifícios nas ruas. Isso é habitual não só na cultura cachoeirana, como em outros municípios, como Cruz das Almas e Senhor do Bonfim. O acontecimento atrai muitas pessoas para as ruas durante a noite/madrugada, com mais força, geralmente entre os dias 30 de junho e três de julho. Por outro lado, há os pontos negativos. Alguns reclamam da prática de acender as espadas, do fedor, dos estragos, e de queimaduras adquiridas como consequências da guerra.

Multidão, barulho, odor e queimaduras

Elisabete Oliveira, 21 anos, conta que gosta, mas que a guerra pode acontecer em uma rua específica reservada apenas para a utilização das espadas. Além disso, mesmo sendo tradição, dificilmente alguém não se machuca, como seu irmão, Edson Alexandrino, que se queimou no rosto na subida do Rosarinho, em Cachoeira. Ele contou que foi tentar pisar na espada, e que as chamas vieram de encontro ao seu rosto. “A pele ficou queimada, eu tive que arrancar para ficar cicatrizado, se eu deixasse ia ficar manchado. Quando usei a escova para retirar, sangrou”, disse.

Heloísa Rodrigues, 19 anos, admite que gosta de assistir, porém de dentro de casa, ou bem afastada da multidão. ¨Reconheço que há uma falta de segurança imensa na guerra, correndo o risco de muitas pessoas se machucarem¨. Para evitar reclamação de moradores quanto a não conseguirem dormir, ou pela presença das queimaduras nas fachadas das suas casas, Heloísa sugere que se arranje um lugar somente para a prática, e não em todas as ruas do centro. “Acho que a diversão de quem brinca, e quem vai apreciar também acaba se divertindo, eu delegaria um local específico para acontecer se tivesse poder para isso. Um local mais isolado”, completou.

Foto: George Almeida | @Cachoeirafotos

As ruas ficam tomadas de pessoas. Muitos espadeiros se concentram para utilizarem os fogos de artifícios que produzem um odor, para alguns, desagradável. O barulho que as espadas fazem durante a guerra impede que moradores descansem, ou que tenham noites mal dormidas, pois, em alguns pontos da cidade a manifestação acontece durante boa parte da madrugada. A fachada das casas, ao amanhecer, aparecem riscadas. Para isso, alguns moradores compram papelão para tentar proteger os azulejos, portas e janelas de suas residências.

Proteção, alegria, união e manifesto cultural

Renan Mateus, 21 anos, oriundo de outro estado, comenta que acha linda a tradição dos espadeiros. Para ele, esse contato com a cultura foi muito bom, e mesmo sabendo que a guerra de espadas é uma luta perigosa, e tendo uma queimadura leve no primeiro ano que participou, pensa que não é algo para ser acabado. “Banir a tradição, a cultura, é algo que nem deveria ser discutido. Abrir esse precedente é perigoso por todas as tradições, não só na Bahia, mas no Brasil todo. Querendo ou não, é uma forma de manifestação cultural”, disse. Mesmo sabendo que existem os pontos negativos como riscos de queimaduras, e até acidentes, as pessoas continuam participando. Renan destaca um ponto positivo: “ A alegria dos espadeiros, a união no bairro, sem dúvidas são coisas excelentes, é difícil você ver briga em guerra de espadas”, acrescenta.

Foto: George Almeida | @Cachoeirafotos

Flávia Vieira, 26 anos, conta que essa tradição já passa de cem anos em algumas cidades da região. Então a cultura local precisa ser conservada, e como ela participa todos os anos sabe as situações que se pode ocorrer. “Já me queimei de leve. Nada grave, quando você vai para o meio assume esse risco”, disse.  Algumas ruas deveriam ser determinadas para a queima de espadas, e como não é todo mundo que gosta é algo que deve ser respeitado. E para a participação ser algo divertido. “O que precisa é ter uma reeducação. Como fabricar, como armazenar os materiais, como tocar, e como se proteger. Tudo isso é de extrema importância para evitar acidentes” sugere.

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