Mulher negra, emprego e renda

As mulheres negras do Recôncavo vem passando por um processo de ascensão no mercado de trabalho, apesar dos níveis de desigualdade ainda estarem presentes nos dias atuais.   

Um assunto muito conhecido e talvez até banalizado pela maioria das pessoas, à desigualdade possui uma grande importância imensa para a população. Quando tratamos a desigualdade e principalmente quando nos referimos às raças como acontecimentos “normais” deixamos de contar fatos verídicos, históricos e ignorando o grito de socorro da maioria da população brasileira. De acordo com o IBGE em 2010 a população negra e parda são 50,7% e atualmente chega a 101.923.585 no total de negros, e segundo a secretaria de combate ao racismo de 1996 a 2010 44,1 para 51% lembrando que foram auto declarações, o IBGE ainda afirma que a quantidade de negros no país é de 201.032.714.

Quando as pessoas autodeclaram sua cor proporcionam aumento significativo nos números dos habitantes negros. Ainda existe um sistema que segmenta as pessoas negras das brancas, priorizando os estereótipos pela aparência, por alguns deles terem baixa escolaridade e a pouca inserção no mercado de trabalho. De acordo com o Estatuto da Igualdade Racial:

Da Educação
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social
Do Trabalho
Art. 38. A implementação de políticas voltadas para a inclusão da população negra no mercado de trabalho será de responsabilidade do poder público, observando-se:
I – o instituído neste Estatuto;
II – os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 1965;
III – os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Convenção no 111, de 1958, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da discriminação no emprego e na profissão:
IV – os demais compromissos formalmente assumidos pelo Brasil perante a comunidade internacional.

Apesar da existência deste estatuto que garante direitos ao povo negro, a nossa realidade ainda está distante da igualdade racial, o que pode ser visto em diversos lugares do Brasil. Em Maragogipe, Lucicleides Chaves coordenadora do Centro de Referencia à Mulher da Secretaria de Reparação Racial e da Mulher,  nos conta a realidade, quer seja no mercado de trabalho das mulheres, crianças e jovens no acesso  escolaridade, e, principalmente as que sofrem algum tipo de violência.

Coordenadora do centro de Referencia da mulher, Lucicleides Chaves
Foto: Evelin Querino,  Lucicleide Chaves Coordenadora do centro de Referência da mulher

É possível mostrar quantas crianças e adolescentes negros, sofrem por não ter acesso à escolaridade?
“ Não porque o município não tem um observatório para esta temática, pode-se dizer que existe uma grande quantidade, mas para que haja este calculo é necessário uma política conjunta com as Secretaria de Reparação Racial, Secretaria de Desenvolvimento Social juntamente com Ongs e movimentos sociais.”

Quais são as comunidades mais afetadas pela falta da escolaridade?
“São crianças da favela, das periferias, as ribeirinhas, comunidades quilombolas e famílias da zona rural porque o município ainda não conseguiu mudar esta realidade, porque existem casos de crianças que levam aproximadamente 3 horas de sua residência para os pontos de ônibus, barcos entre outros e acessibilidade é um ponto muito agravante. Porém já existem escola multiceriada nas comunidades ainda sim existe muitas dificuldades.”

Quais são os projetos que a Secretaria desenvolve, para atender as necessidades de mulheres vitimas da violência?
“A Secretaria funciona com a coordenação que abrange à defesa da mulher, dentro desta organização existe um instrumento que é Centro de Referência da Mulher que funciona de forma precária, porque seria necessário uma equipe multidisciplinar mas atualmente a secretaria atende com uma assistente social, uma atendente e uma coordenadora e precisaríamos de uma psicóloga e um advogado. Infelizmente, com a queda na arrecadação do município, trabalhos em parceria com a procuradoria geral do município.”

Quantas mulheres sao  agredidas no município?
“Em 2014 para 2015, foram 152 mulheres, (porque existem casos que ainda estão em atendimento) contudo nesta circunstância já em 2016 estamos com uma quantidade maior. De janeiro até março foram realizados 35 atendimentos, porque é necessário registros  para que as ocorrências sejam contabilizadas, ainda se repetem os casos que não chegam na secretaria porque as vítimas sentem-se ameaçadas. Mas para que as mulheres possam estar resguardadas é preciso fazer um Boletim de Ocorrência, para que a secretaria possa providenciar medidas protetivas, porém este procedimento não oferece segurança total”.

Em relação à inserção no mercado de trabalho no município de Maragogipe, existe algum nível de crescimento?
“As mulheres maragogipanas estão à frente porque o mercado de trabalho no município está em torno da mão de obra feminina, a cada 10 professores 9 são mulheres. Mas a inserção ainda é vagarosa para as mulheres que sofrem violência. A secretaria realiza oficinas através das Ongs que são veiculadas ao centro,  a BATIMA e a MAFRO.  As mulheres são encaminhadas para participar de rodas de conversas e conhecimento no empreendedorismo feminino porque muitas são empreendedoras.”

Em contrapartida, conheceremos um pouco a história de uma mulher que se autodeclara negra, e demostra satisfação com sua experiência de vida e sua profissão. Jacimare dos   Santos trabalha como autônoma, o que para ela é muito bom, pois existe liberdade em escolher o local de trabalho e fazer o que gosta de verdade. Ela estudou até a quinta série do ensino fundamental  diz que tem conhecimentos de algumas coisas. Jocimare trabalha a trinta anos vendendo acarajé, conta que aprendeu o oficio com a sua mãe. Faz parte do candomblé há 26 anos e nunca sofreu nenhum tipo de preconceito com sua religiosidade e nem com a cor da sua pele.

ok!!Sou negra, linda e maravilhosa me sinto representada por mulheres que conseguem chegar numa posição de visibilidade, me sinto no lugar delas porque tenho capacidade também. Fico muito elogiada quando os turistas pedem para tirar fotos comigo, me sinto uma rainha”

 

 

 

 

Foto da capa: Edward Peters

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