Mulheres nas Engenharias: A conquista de um espaço antes tido tradicionalmente como masculino

As mulheres estão provando que o mercado está mudando, bem como a engenharia como conhecemos e estamos acostumados.

Por Thielly Cristine Cassiano

No senso comum da sociedade patriarcal, desde pequenos somos ensinados sobre qual é o papel e função da mulher. Aprendemos que a mulher deve cuidar da casa e dos filhos e os homens devem prover a família, trabalhando fora de casa e conquistando o mundo. Aprendemos também sobre a subordinação das mulheres para com os homens, em um mundo onde estes têm mais oportunidades de emprego e estudo.

Por outro lado, este é um paradigma que está em constante mudança. Em uma breve pesquisa, foi possível constatar que, de acordo com o IBGE, o número de mulheres que são responsáveis pelo sustento da casa cresceu significativamente, bem como o seu nível de escolaridade. Nesse último, destaca-se o número de mulheres universitárias, elas representam 57,1% do total de estudantes que frequentam o ensino superior na faixa etária de 18 a 24 anos de idade.

Mas por que isso está acontecendo? Segundo Elizabeth Bortolaia em seu artigo “Des-Construindo Gênero Em Ciência E Tecnologia” existe um entendimento de que “a construção de mulher considera todas as mulheres frágeis, inferiores, etc. a vida inteira” e que isso é ressaltado por aqueles conceitos de que a mulher deve ser mãe e dona de casa. Porém, nos últimos anos existiram mudanças no comportamento das divisões de gênero e em outros processos de desigualdade, do que é considerado “de homem” e “de mulher” e da visão de que mulher ainda é “o sexo frágil”. Ainda segundo Bortolaia, “A identificação e invisibilidade das responsabilidades das mulheres pelos conteúdos emocionais não se limitam ao lar e ao corpo. ” E nem devem!

As mulheres estão ocupando espaços que antes eram vistos tradicionalmente como masculinos. Isso vale tanto para o mercado de trabalho quanto para os cursos universitários. A presença feminina aumentou em cursos das áreas exatas e tecnológicas, sobretudo nas engenharias.

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Ainda assim, mulheres sofrem para ocupar estes espaços. É o que conta Ully Peçanha, estudante de engenharia mecatrônica. “Durante a faculdade o que foi mais sentido, é de que eu nunca seria boa para fazer algo da engenharia. Se era para fazer algo na oficina, eu era sempre a última a ser escolhida (olha que eu tinha mais capacitação do que outros rapazes), se era para limpar algo, sempre tinha vaga para mim…”

O machismo e preconceito masculino está explícito, e mulheres precisam do dobro de esforço para provar o seu valor e que são dignas de estar ocupando tal posição dentro de sua profissão escolhida. “Percebi com o tempo que gritar, fazer barulho, reclamar não ia adiantar de nada… resolvi mudar a tática: fiquei em silêncio e resolvi dar duro no meu trabalho. Fui para a minha primeira competição no início do ano, e lá fiquei por conta de organizar a equipe e toda a estrutura física do nosso box. No final da competição, o professor orientador disse que ficou impressionado comigo e que “eu peguei muito mais duro que muito homem lá” conta.

Tal esforço e trabalho duro rendeu bons frutos para Ully, “acabei sendo chamada para estagiar numa multinacional, onde coordeno hoje uma equipe de quase 60 homens. Sou uma das poucas pessoas que conseguiram um estágio na área estando ainda no meio da faculdade. ”

As antigas concepções patriarcais começam a cair por terra, e isso é ótimo para nós mulheres. Mesmo que isso ocorra a passos lentos, muito em sido feito a respeito, como é o caso de um projeto no Reino Unido, o Engineer a Better World que tem como objetivo estimular o interesse dos jovens pela engenharia, principalmente de o de meninas, uma vez que as mulheres representam apenas 6% dos engenheiros do Reino Unido.

Por aqui no Brasil, a Universidade de Caxias do Sul desenvolve o projeto Encorajando Meninas em Ciência e Tecnologia, que busca despertar o interesse de meninas no ensino médio pela área.

Termino mais uma vez citando Elizabeth Bortolaia, “É tempo de mudar a nossa maneira de conceber as diferenças sociais se quisermos que as nossas realidades não sejam totalizadoras e que as nossas vidas reflitam as possibilidades de não-dominação. ” As mulheres estão provando que o mercado está mudando, bem como a engenharia como conhecemos e estamos acostumados. É necessário que continue existindo a luta pela representatividade feminina em todos os espaços.

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