O jornalismo hoje

O texto que quem estuda Jornalismo sempre quis mostrar para aquela tia que sempre faz a pergunta terrível e insuportável: “Quando vai ser você no lugar do Bonner?”.

Você diz que passou em Jornalismo em qualquer universidade e lugar desse país e a primeira coisa que as pessoas falam, antes mesmo de te parabenizarem pela aprovação, é: “Quer dizer então que daqui uns anos é você no lugar do Bonner no Jornal Nacional?”

“Só que assim, gente, jornalismo não é só isso, jornalismo não é só Globo. Muito pelo contrário, jornalismo é uma coisa muito maior do que isso, tem toda uma abrangência para outras áreas”, diz Peterson Macêdo, estudante do segundo semestre de Comunicação Social – Jornalismo da FAT (Faculdade Anísio Teixeira).

São 341 cursos de Jornalismo no país, segundos dados do Ranking Universitário da Folha de 2014, e ainda assim muitas pessoas não fazem ideia do que é o curso/profissão e pra que serve estudar jornalismo além de conseguir um diploma no fim do curso.

Falando em diploma, desde 2009 que não há obrigatoriedade do diploma de jornalismo por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), sob alegação de que a exigência do diploma choca com a liberdade de expressão prevista pela Constituição. Desde então, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 386/09– que trazia a proposta de restabelecimento da exigência do diploma de jornalismo para o exercício da profissão – tentava fazer com que a exigência voltasse a vigor. Mas em março de 2015, ela foi mesclada a outra PEC (206/12) já aprovada pelo Senado, também relacionada à obrigatoriedade do diploma só que mais branda do que o projeto anterior.

A maioria dos cursos superiores de Jornalismo (ou Comunicação Social – Jornalismo) do país focam em preparar os seus estudantes para o mundo-cão de uma redação de veículo jornalístico de grande circulação (o que só aumenta o eco do senso comum de imaginar todo estudante da área como o próximo integrante da bancada do Jornal Nacional). Inclusive as novas diretrizes do MEC, aprovadas em 2013 e válidas desde 2015, para a formação de Jornalismo indicam o quão focado no mercado curso é.

Num breve questionamento a dez pessoas, os entrevistados responderam à pergunta: “Quando vocês escutam a palavra jornalismo, o que vem imediatamente à cabeça?” E as respostas variaram muito pouco. De jornal impresso (como Correio, Folha de São Paulo), passando por revistas (como Veja e IstoÉ) até telejornais (como o famigerado Jornal Nacional, Bom dia Brasil e Jornal Hoje); as respostas reforçam o senso comum estereotipado de que esses são os únicos meios capazes de fazer jornalismo.

O mercado de trabalho do jornalista não se resume a isso. Já se foi o tempo em que apenas TV e impressos tradicionais tinham a capacidade de ter bons conteúdos jornalísticos. A massificação da internet e a necessidade de reinvenção vinda disso fez com que novas portas se abrissem para as pessoas que estão saindo das faculdades.

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Jordane Magalhães l Arquivo Pessoal

Não que isso seja fácil, porque, como diz Jordane Magalhães – jornalista que trabalha como assessora de comunicação – “o primeiro baque que a gente tem é que a gente acha que quando a gente sai da universidade, a gente se sente preparado para encarar o mercado de trabalho, mas na maioria das vezes a gente não encontra portas abertas assim, escancaradas… (sic)”.

Mas quando se analisa tantas novas possibilidades de encaminhamentos, é nítido o quanto o eixo TV-Impresso-Rádio deixou de ser o único centro da comunicação atual. Século XXI e suas tecnologias trouxeram diversos recortes de realidade diferentes dos imaginados pelos mais tradicionalistas.

Desde Digital Influencer, passando por blogueiro, criador de conteúdo do YoutubeInstagrammer ou parte da Mídia Ninja, o jornalismo atual é muito mais do que o próprio jornalismo. É comunicação, que usa de todos os artefatos e instrumentos disponíveis para mostrar que o meio é a mensagem, e a mensagem é “pau para toda obra”.

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Bruno Leite | Arquivo Pessoal

Até mesmo quem ainda está para começar o curso, como é o caso de Bruno Leite – editor de um blog regional e aprovado em Comunicação Social – Jornalismo na UFRB semestre 2016.1 – está claro o quanto é necessária uma versatilidade (e também disposição para experimentar) num futuro jornalista: “Eu escolhi o jornalismo por ter encontrado no curso, a possibilidade de sempre estar me reinventando, pesquisando e pondo em prática minha facilidade em escrever e me comunicar. Espero que o curso aprimore meu intelecto, explore e reforce meu senso crítico, assim poderei servir como um interlocutor da sociedade, levando em conta os valores éticos necessários para a vida de um bom profissional”.

Foto de capa: Reprodução | Flickr

2 comentários sobre “O jornalismo hoje

  1. Muito boa sua explanação, e acredito que vai ajudar muitas pessoas a pensar em no assunto e tomar decisões diferentes. Parabéns!

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