“SEXTING”: EXTENSÃO DE PRÁTICAS OFENSIVAS E CRIMINOSAS CONTRA AS MULHERES

Por Ana Célia Coelho

Você sabe o que significa sexting e nude selfie? Em Cachoeira, no último ano, três crimes dessa natureza foram oficialmente relatados. A mais recente vítima desse tipo de crime foi uma cachoeirana de 25 anos. Ela registrou Boletim de Ocorrência na Delegacia da Polícia Civil de Cachoeira e aguarda a apuração do inquérito. Neste caso, a própria vítima tirou as fotos sexualmente explícitas e enviou ao seu namorado, mas após o término do relacionamento, ele repassou as fotos para os amigos através do WhatsApp e Facebook. Os chamados sexting e nude selfie – compartilhamentos de imagens e/ou vídeos de nudez e sexo em sites e aplicativos móveis – dobrou nos últimos dois anos no Brasil. Confira no gráfico abaixo os últimos dados da Safernet, entidade que monitora crimes e violações dos direitos humanos na Internet.  

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  Perfil das vítimas de Sexting e Nude Selfie no levantamento da Safernet entre 2012 e 2015.

Segundo o levantamento da Safernet, o sexting (exposição íntima) tem como vítimas preferenciais as jovens, em especial as adolescentes. Foram denunciados 322 casos desse tipo de crime apenas em 2015, sendo a maioria das vítimas do sexo feminino (80%) e, destas, 25%, com idade entre 12 e 17 anos; 36% entre 13 e 15 anos. Diante disso, a ONG lançou Campanha de conscientização e orienta que a prevenção ainda é a melhor solução. Em entrevista ao G1, a psicóloga Juliana Cunha, da Safernet, afirma que os adolescentes e jovens encontraram nos smartphones uma nova maneira de expressar sua sexualidade. Por isso, o nude selfie e o sexting fazem parte dessa nova cultura digital. Para muitas mulheres, fazer “selfie com nudez” simboliza prova de cumplicidade e intimidade com o parceiro.

O que poderia ser apenas a troca de imagens eróticas ou sensuais entre casais, está se tornando uma prática “criminosa” e vingativa. Pois, em muitos casos, são os ex-companheiros que publicam na internet fotos e vídeos íntimos das ex-parceiras como forma de vingança, após o fim do relacionamento. O sexting reúne características de diferentes práticas ofensivas e criminosas contra as mulheres. Envolve ciberbullying por ofender moralmente e difamar as vítimas, que têm suas imagens publicadas sem seu consentimento; estimula a pornografia infantil e a pedofilia em casos envolvendo menores.

Mas por qual motivo as mulheres são a maioria das vítimas do sexting? Do ponto de vista sociocultural, a mesma sociedade que condena crimes envolvendo abusos sexuais contra as mulheres, também promove de forma mecânica e maciça uma cultura que cultua a erotização feminina, inclusive das crianças. A mulher, para conquistar espaço, precisa ser desejável. As vítimas de nude selfie têm sua autoestima abalada e se sentem perseguidas. Elas se sentem sob constante ameaça, porque qualquer indivíduo com um computador ou celular poderá ter acesso ao material ou conhecer a sua história. E algumas jovens chegam a cometer suicídio por não conseguir conviver com a exposição do seu corpo nas redes sociais.

Como se sabe, o machismo atua baseado em um repertório de simbologias e discursos que se concretizam na pratica produzindo um mundo extremamente desigual. Segundo a pesquisadora Schienbinger (2001) a “ciência sexual” usou provas médicas para defender a desigualdade social das mulheres, usando um paradigma da radical diferença física e intelectual. E, apesar dos avanços na medicina, em relação à saúde da mulher, ainda faz-se necessário corrigir disparidades e insensibilidades do sistema de saúde, principalmente quando se trata da sexualidade feminina. Muitos abusos contra a mulher são minimizados e/ou considerados “comuns” em nossa sociedade, pois ainda predomina valores machistas, que menosprezam as especificidades da mulher.

Vale ressaltar que a divulgação de materiais com teor sexual, sem o consentimento do dono, pode ser interpretada pela Justiça como crime contra a honra. A vítima pode processar o responsável pela publicação por danos morais. Em situações envolvendo menores, a pena pode chegar a seis anos com base no Estatuto da Criança e do Adolescente. No entanto, para evitar transtornos e situações de perigo, a Safernet alerta: “Mantenha sua intimidade off-line”! Uma vez na web, perde-se completamente o controle da foto ou do vídeo íntimo publicado.

“A Internet não guarda segredos!”, alerta Campanha da Safernet. (Foto: Divulgação/ http://new.safernet.org.br)
“A Internet não guarda segredos!”, alerta Campanha da Safernet. (Foto: Divulgação/ http://new.safernet.org.br)

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