Sobre a Escola: “A criança não precisa sofrer para aprender”

Escolas apostam em modelo de aprendizagem livre, tornando o processo de aprendizagem em uma experiência agradável e                                                            transformadora.

 

Resultado da última pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) aponta que 44,1% dos brasileiros estão abaixo do nível de aprendizagem avaliado como ideal em matemática, literatura e ciências. Apenas 0,13% atingiram o nível máximo em matemática, 0,14% em leitura e 0% em ciências. Os níveis vão de 1 a 6, mas maior porcentagem dos estudantes brasileiros estão abaixo do nível 2, tendo 70,25% nesta condição em matemática, 56% em ciências e em leitura 51%.
O 1º ano teve a maior taxa de evasão do ensino médio no país em 2016, com 8,6%, seguido pelo 4º ano, com 6,7%.

Os estados com mais municípios com as maiores taxas de abandono e reprovação são o Amapá, Pará e Mato Grosso.

A partir desses dados é possível observar como o sistema educacional vigente brasileiro é falho. Ele oferece uma metodologia sem questionar os principais interessados, os próprios estudantes, sobre o processo de aprendizagem e o que querem ter durante os doze anos, tempo médio para formação básica, que passam na escola. Todo ensino da criança e adolescente gira em torno de uma única prova: o vestibular. Essas características direcionam a formação para o mercado de trabalho e suscita problemas, como o desinteresse em ficar anos em sala; a inibição do intelecto já existentes nos alunos, uma vez que estão apenas escutando sem oportunidade de debater e tornarem-se seres pensantes e questionadores.

O panorama atual da educação brasileira tem mostrado que o modelo de ensino-aprendizagem presente na maioria das escolas não tem sido eficaz. As crianças e adolescentes, que são parte fundamental nesse processo, demonstram estarem desencantadas com o ambiente escolar, e profundamente descontentes com a sala de aula. É nesse contexto que as escolas alternativas se disseminam pelo país, mostrando que é possível desenvolver uma educação inovadora, e ao mesmo tempo tornar o aprendizado uma experiência agradável e transformadora.

A baiana Márcia Maria Rocha Neves, professora há 33 anos, diz que o ideal seria fazer uma escola com a cara dos estudantes. “Eu acho que o aluno precisa ser feliz! A escola precisa ser um lugar acolhedor, onde encontrem o afeto, respeito, amor, virtudes, conhecimento básicos e coisas que não encontram no dia a dia na rua. Nós sabemos do nosso papel, a função social da escola é ensinar isso também, não podemos perder esse foco!”.

ESCOLAS PARA ALÉM DA SALA DE AULA

O modelo alternativo de ensino vai de contramão a escola tradicional, propõem a experimentação, com métodos que priorize a liberdade de escolhas, aqui as cartilhas não regem o aprendizado, o conhecimento está para além das paredes das salas de aula.

Essas novas experiências e práticas educacionais são discutidas e apresentadas no documentário “Quando sinto que já sei”, idealizado por Antônio Sagrado Lovato, foi custeado com ajuda de contribuições por meio do site de crowdfunding Catarse. O filme reúne depoimentos de educadores, alunos, pais e profissionais de diversas áreas sobre a necessidade de mudanças no tradicional modelo da escola. Um dos depoimentos presente na obra é do antropólogo e educador Tião Rocha, do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, em Curvelo, Minas Gerais, que compara o modelo tradicional a um “serviço militar obrigatório” a partir dos seis anos de idade: “A criança não precisa sofrer para aprender”, afirma ele.

A relação entre educador e aluno também é abordada, destacando os novos desafios dos professores e pedagogos, e o quanto eles são importantes na disseminação e construção desse aprendizado, como afirma a pedagoga Rosélia Cristina, “os caminhos, eles se fazem é no coletivo, e não existe  o fazer isolado”.

PEDAGOGIA WALDORF

A pedagogia Waldorf surge no ano de 1919, quando o dono de uma fábrica de cigarros chamada Waldorf, pede ao filósofo austríaco Rudolf Steiner para desenvolvê-la. É daí que o nome se originou. No ensino da Waldorf a formação de seres humanos prevalece sobre o quesito tirar notas altas, isso que é referendado pelo conceito “educação para a liberdade”. Atualmente existem mais de 800 escolas pelo mundo, espalhadas por 40 países. O método pedagógico praticado pela Waldorf, procura integrar de maneira holística o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos alunos.

Saiba mais sobre a pedagogia Waldorf no vídeo a seguir:

 

MÉTODO MONTESSORI

O Método Montessori foi desenvolvido pela cientista Maria Montessori, no início do século XX, à partir de um trabalho em uma escola chamada Casa dei Bambini, localizada em um bairro pobre chamado Lorenzo, em Roma. Segundo Montessori a criança aprende por si mesma, de acordo o seu processo natural de desenvolvimento, que cada uma possui o seu ritmo de aprendizado, o ambiente educacional deve ser adequado e atender as necessidades específicas da criança. A forma educacional Montessori tem como marca o desenvolvimento de princípios positivos nas crianças como a autonomia, o respeito a si mesmo e aos outros e as capacidades sensoriais.

Conheça um pouco mais sobre a metodologia Montessoriana no vídeo a seguir:

 

ESCOLA CASA DA MATA

Localizada no distrito de Imbassaí, município de Mata de São João, Litoral Norte da Bahia, a escola Casa da Mata surge de um movimento criado por um grupo de pais que acreditavam ser possível construir uma escola dentro da própria comunidade, e que fosse diferenciada para seus filhos. A primeira turma nasce no ano 2010, apenas com o núcleo de Educação Infantil. Atualmente a escola desenvolve trabalho com a Educação Infantil e Ensino Fundamental.
A pedagogia metodológica da Casa da Mata busca favorecer o desenvolvimento integral de cada individualidade, promovendo assim, o alinhamento  entre o sentir, pensar e querer. Dessa forma existe diariamente  uma mescla entre atividades de movimento (que trabalham a vontade), artísticas ( que trabalham o sentir) e o pensar (conteúdo curricular) todos esses tratados com equanimidade.

A escola desenvolve ações bastante inovadoras, uma delas é o sistema de apadrinhamento. Ele funciona de maneira que qualquer pessoa pode estar contribuindo na formação e educação de uma criança da escola. Cada aluno tem um custo médio por mês, sendo que nem todas as famílias da comunidade tem condições de estarem contribuindo com o valor.

Elas pagam uma porcentagem conforme  a renda familiar, este processo é avaliado pela seleção de bolsas e o restante a escola cobre através de ações sociais, como a venda de artigos do brechó, rifas, eventos em praça aberta onde são comercializados laches ofertados pelos pais, toda receita dessas ações é revertida para a escola. O apadrinhamento também pode ser feito através do site escola@escolacasadamatabahia.org

Fotos © Escola Casa da Mata

ESCOLA INKIRI

Inspirada pelas ações da Escola da Ponte, de Portugal, que tem a liberdade e a autonomia como principais valores, e a Fundação Pestalozzi, do Equador, que relaciona o afeto com autodesenvolvimento, a Escola Inkiri preza pelo desenvolvimento individual de cada criança, acreditando na consolidação de uma Comunidade de Aprendizagem, no qual todos ao entorno têm a possibilidade de participação, aplicando os seus dons e talentos no processo de ensino aprendizagem.
Localizada em Piracanga, na Bahia, a escola trabalha com crianças de 1 a 15 anos, tem como alicerce os princípios espirituais do ser humano e a auto realização desses alunos. Atividades como a marcenaria, cozinha e sala de artes atuam diretamente para o desenvolvimento das crianças.

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  Fotos © Escola Inkiri

 

ESCOLAS ALTERNATIVAS NA BAHIA

A ESCOLA COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO E CONSTRUÇÃO 

Mestre em educação e especialista em Currículo e Didática, Carla Carolina Costa da Nova, fala sobre as consequências do ensino padronizado e afirma que o currículo é desenvolvido e organizado de modo vertical, a partir de uma visão do mundo dominante. “Hoje a escolarização é conduzida para a chamada formação para o mercado de trabalho, que trabalha com competências e habilidades requeridas pelo mercado. Essa verticalização curricular supõe que todos os estudantes em todas as partes possuem o mesmo interesse, as mesmas referências e o mesmo modo de aprendizagem”. Segundo Carla, do ponto de vista de diretriz, as metodologias de ensino devem priorizar essa formação para o mercado de trabalho, muito baseada em conhecimentos distantes dos saberes experienciais dos alunos e sem a preocupação com a ampliação da visão ou da leitura de mundo. Ela ainda ressalta outra consequência, a homogeneização do processo escolar, o que dá pouca convivência com a diversidade.

A educadora também toma como importante a educação alternativa por construir um currículo onde os sujeitos da aprendizagem são valorizados, mas lamenta que não estejam acessíveis o suficiente para a população:

Estes exemplos estão fora do sistema escolar público. Geralmente são iniciativas isoladas ou trabalho de escolas particulares que atingem um público pequeno diante da enorme carência do sistema público de educação”. O principal desafio é enfrentar e modificar o sistema de escolarização oficial público, a luta pela democratização, gratuidade e qualidade desse sistema ainda não se apresentou como efetiva, por conta dos interesses mercadológicos que sistema capitalista impõe”.

Carla defende que a primeira demanda para melhorar a educação é modificar nos cursos de formação o lugar atribuído aos próprios professores. “A formação inicial de professores (graduação) e a formação continuada de professores (cursos de ampliação da formação inicial) para serem diferentes do que hegemonicamente se apresentam precisariam mudar a visão que possuem sobre os professores”. Nova também afirma, que os cursos não possuem um olhar no sentido de que os professores são capazes de construir o currículo para sua própria formação, “em todos os lugares os currículos de formação inicial ou continuada também são verticais e transmitem a visão de que professores são consumidores de conhecimentos produzidos por outros e por isso especialistas é que são chamados para construir as propostas desses cursos”.

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