Transexuais e a luta pelos direitos básicos

Victor Rosa

Ano após ano a população trans vem ganhando cada mais destaque, voz e espaço na sociedade, principalmente no ambiente acadêmico. Identidade de gênero e orientação sexual vêm se tornando pautas frequentes nas universidades, mesmo nos cursos considerados elitistas e preconceituosos, a exemplo da área de saúde e das engenharias.

Os estudantes trans estão conseguindo conquistar direitos antes considerados impensáveis, como a aceitação do nome social na matrícula e por consequência na lista de chamada dos professores. A UFRB, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, por exemplo, desde 2015 autoriza a utilização do nome social.

Contudo, apesar dessa conquista, a luta não para por aí. Não basta apenas fazer a matricula com o nome social se dentro da instituição de ensino não há respeito, tanto dos professores quantos dos alunos, pela identidade de gênero do próximo. Com casos onde as pessoas se recusam a tratar o outro pelo gênero em que se identifica (masculino ou feminino) ou de professores que se recusam a chamar o estudante pelo nome social, mesmo presente na lista de chamada.

O estudante trans Arthur Ozawa, graduando do curso de Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da UFRB, relatou já ter sofrido transfobia diversas  vezes na faculdade. “No início foi bastante complicado. Tive alguns problemas com alguns colegas que não aceitavam a minha condição e sofri por diversas vezes com silenciamento em sala de aula, com a autorização e o viés dos professores, afinal quem cala consente. ”, afirmou o estudante.

Se dentro da universidade ainda existem barreiras a serem quebradas em relação a identidade de gênero, fora dela as barreiras são ainda maiores. Vivemos em uma sociedade que está enraizada em um modelo machista, onde as mulheres são inferiorizadas e desrespeitadas em relação aos homens cis e este preconceito é passado para os transexuais, com a inclusão da transfobia. A sociedade (lê-se, em sua maioria, os homens) não aceita uma “mulher que virou homem” ou um “homem que virou mulher”. Nesses casos, acaba havendo uma interpretação de que a mulher quer se tornar um “ser superior” e o homem quer se inferiorizar.

Em seu livro, O feminismo mudou a ciência?, a autora Londa Schienbinger citou um argumento do médico grego do século II, Galeno, que mostra como a questão de gênero e de identidade gênero é um problema que já dura séculos. Segundo a autora, Galeno argumentava que, embora uma mulher pudesse tornar-se um homem, um homem não podia tornar-se uma mulher e o motivo disso era que a natureza sempre luta pela perfeição.

Este preconceito é evidente na medicina. O corpo estudado na medicina é o masculino, o remédio fabricado é feito para atuar no corpo masculino. Neste caso, não só as mulheres cis são prejudicadas como os homens trans. Além de terem que tomar hormônios (testosterona ou estrógeno) frequentemente, os transexuais ainda têm que lidar com remédios que não foram feitos para o corpo deles. Muitos trans ainda passam pelo constrangimento de irem ao hospital e terem que explicar a situação do corpo e do nome. É frequente os casos de não aceitarem o nome social e chamarem pelo nome civil na frente de todos os pacientes.

Além de todo constrangimento perante a sociedade, os transexuais ainda enfrentam, em sua maioria, problemas com a família. Famílias ditas como tradicionais, quase sempre religiosas, que prezam pela estrutura heteronormativa e sempre utilizam Deus como principal argumento. É comum ouvir dessas pessoas que “Deus fez o homem e a mulher e que isso não pode mudar”.

Arthur afirmou que no começo, quando se assumiu trans para família, passou por diversas dificuldades. Não houve aceitação da mãe, que o expulsou de casa e parou de bancá-lo na faculdade. “Com relação a minha família, em geral, a minha condição foi exposta ao final do ano que se passou. Meus avós aceitaram bem, mas meus tios, em sua maioria evangélicos, tentaram fazer o que sempre fazem. Hoje minha vó tenta me tratar no masculino, contudo é difícil pra ela e para os demais. Bastante compreensível, afinal foram 22 anos de reconhecimento enquanto menina, mas aos poucos as coisas estão indo ao seu devido lugar. Atualmente a minha mãe já me reconhece enquanto homem e me trata como o tal. ”, pontuou o estudante.

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