Apesar da flexibilização do distanciamento social, terreiro de candomblé Ilê Axé Alá Kirij ainda vive limitações da COVID-19

Localizado na Boca da Mata de Valéria, em Salvador, Ilê precisou interromper atividades pela primeira vez em 43 anos por causa da pandemia

 Beatriz Ferreira e Rafael Pedra

O terreiro de candomblé Ilê Axé Alá Kirij, localizado na Boca da Mata de Valéria, em Salvador, se viu obrigado a interromper as atividades no início da pandemia da Covid-19 e se adaptarem a uma realidade jamais imaginada. Com a reabertura da casa para demandas internas, o babalorixá (pai de santo) Ângelo Santana disse que ainda vivem as limitações causadas pela Covid, que afetou desde a economia até a organização das tarefas do barracão, além de acreditar que esse é apenas o começo de readaptação do mundo diante da crise imposta pela pandemia.

“O mundo não será mais o mesmo após a pandemia”, disse Ângelo Santana sobre as mudanças que acredita serem permanentes.

E o babalorixá completou: “Os materiais subiram desordenadamente, chegamos à feira e vemos o preço do que era antes da pandemia e do que é hoje. A própria inflação que corrói o bolso da gente e estamos temos que nos adequar a esse novo normal”.

A casa que já está em funcionamento há 43 anos e nunca passou por um fechamento dessa dimensão, como ocorreu no ano de 2020. Sob determinação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de Oxalá – o orixá regente da casa – foi determinada a interrupção das atividades abertas ao público, adiamento das obrigações e reclusão do babalorixá no terreiro que seguiu zelando e cultuando os orixás e o espaço, dispensando, inclusive, a presença dos filhos de santo, a menos que fosse extremamente necessário e seguindo as recomendações de segurança estabelecidas pela OMS de higiene de materiais externos, uso de máscara, distanciamento social, uso de álcool e higiene das mãos.

Raquel Gomes, a filha de santo, enfermeira do Hospital Geral do Estado e Samu, que também ficou reclusa no terreiro, junto com a filha de 11 anos e o seu companheiro, Ângelo Santana. “Nos mudamos pra o terreiro e permanecemos isolados aqui por um ano e até eu me vacinar, ficamos em quartos separados. Os talheres, banheiros também foram separados para evitar esse contato porque era tudo muito novo”, relatou como foi estar em contato com outras pessoas e manter a segurança da família durante o período de estadia no terreiro.

A casa, que não conta com apoio financeiro do estado para a manutenção, sofreu impactos de forma indireta na medida em que o babalorixá é o principal responsável e direciona uma porcentagem do seu salário de diretor do Centro Educacional Antonieta Santana, que também teve as atividades interrompidas e foi afetado economicamente, e, com isso, o repasse para o terreiro diminuiu proporcionalmente. “Foi muito difícil”, afirmou ele.

Por se tratar de uma religião na maioria das vezes de culto em coletivo, os integrantes da casa afirmam que foi difícil estar distante e ter uma brusca mudança na rotina, de não estar presente com a família. Às sextas eram feitos encontros pela plataforma do zoom, para amenizar a saudade causada pelo distanciamento físico.

 “O candomblé é uma religião de convivência e a pandemia veio incidir sobre isso de uma forma muito direta”, declarou o babalorixá Ângelo.

Com isso, a flexibilização e o retorno dos filhos de santo à casa ainda estão sendo de forma escalonada, ao ar livre, com distanciamento e com a maioria dos presentes já vacinados com a primeira e segunda dose, mas já soa como uma esperança de melhora e reabertura de festa ao público em breve, que já tem data e vem sendo organizada para ocorrer no dia 23 de janeiro de 2022, se os casos mantiverem caindo e aja um crescente número de vacinados.

 

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