Projeto do Instituto Feira Preta chega no recôncavo da Bahia menos de um ano após ser inaugurado em São Paulo
Rebeca Mota
Cachoeira ganhou um novo espaço de economia colaborativa de cunho econômico e cultural localizado em sua rua mais boemia, a Vinte e Cinco de Junho, no número 4. É que uma nova unidade da Casa PretaHub foi inaugurada, no último mês de agosto na cidade que fica a aproximadamente 116 Km de Salvador. Trata-se de um projeto do Instituto Feira Preta para produzir conteúdos digitais, cocriar e desenvolver negócios criados por empreendedores negros, promovendo a difusão e valorização do afroempreendedorismo e da cultura afro diaspórica.
A Casa PretaHub abriu as portas primeiro em São Paulo, em setembro do ano passado, e sua mais nova unidade agora funciona em um casarão. Com 800 m², possui estúdio de foto e vídeo feito em parceria com o Facebook e o estúdio de áudio, em construção para gravação de música e podcasts, feitos em parceria com o Instituto Alok, cozinha compartilhada, biblioteca, área de exposições, loja colaborativa apresentada pelo Mercado Livre, café e salas para workshops e ambientes que podem ser ocupados por profissionais autônomos e empresas .
A grande novidade do projeto é o espaço para hospedagem. O casarão possui seis quartos prontos para receber artistas, criativos e inventivos para a experiência de residência artística de todo o Brasil.
“Inaugurar a Casa PretaHub na Bahia, maior comunidade de negros e negras fora do continente africano, é a realização de um sonho. Neste ano, a Feira Preta realiza sua 20ª edição, e neste período, com o hub de inventividade preta, a PretaHub, desenvolvemos diversos programas com intuito de impulsionar os afroempreendedores. A casa é a personificação de tudo o que já desenvolvemos e dá um lastro permanente”, afirmou a CEO da aceleradora PretaHub, Adriana Barbosa.
A CEO foi a fundadora da Feira Preta, evento anual realizado para promover a cultura e o empreendedorismo negro que recentemente lançou sua primeira plataforma de e-commerce. “A Casa PretaHub é um espaço que permite o apoio a esses profissionais desde o processo criativo até o escoamento dos projetos. Tudo isso resgatando a nossa ancestralidade e dando todas as ferramentas para as potências pretas”, disse.
A estrutura do trabalho com um modelo híbrido oferece serviços e reservas gratuitas e pagas. Por exemplo, as reservas podem ser feitas sem custo no site da PretaHub, mas a utilização do espaço possui limitação de tempo. Caso queiram utilizá-lo por mais horas ou dispor do auxílio de um técnico de som, uma produtora, entre outros serviços, há um custo. A mão de obra oferecida é fornecida 100% por empreendedores negros alocados no espaço.
Apesar de já ter sido inaugurada, as reservas só poderão acontecer a partir de novembro porque ainda estão finalizando o estúdio de som.
Mas, segundo Adriano José Lima de Jesus, gestor da Casa de Cachoeira, a Casa já está funcionando, ela já vem apoiando a atividade de grupos de Cachoeira como a Feira de mulheres negras que utilizam o espaço para articulações.
“De maneira geral percebo que a população está gostando, estão dizendo que Cachoeira precisava de um espaço como esse. Mas o nosso impacto com o público mesmo vai ser quando a gente puder abrir a casa de maneira plena e isso vai ser quando a pandemia estiver em um outro momento. Para podermos realizar os eventos, receber grupos, aí sim creio que a população da cidade vai entender melhor o que estamos propondo”, disse Adriano José.
Seis artistas ocuparam a Casa PretaHub por dez dias para a período em que Adriana fez um Afrolab especial com eles, três locais, Marcos da Mata, Maria Struduth e Eloisa França, e três externos, Mozana Amorim, de Salvador (BA), Francine Moura, de Angra dos Reis (RJ), e Ramo, de São Paulo (SP).
Os artistas que ficaram responsáveis pela pintura interior do casarão, procuraram referências na cultura local e para isso visitaram vários lugares tradicionais da cidade e da região como a Casa de Cerâmica, a fábrica de charutos, além de algumas personalidades históricas da cidade e um quilombo que tem no município de Cachoeira. Essas imersões possibilitaram que os artistas sentissem e vivenciassem o Recôncavo Baiano, o que fez com que cada obra retratasse o interior da Bahia como ele é.