Imagens mostram força da Irmandade da Boa Morte nas lutas históricas e conquistas por direitos na Bahia e no mundo.
Por Klêisila Carneiro (texto e fotos).
A Irmandade da Boa Morte é a representação da força e resistência da mulher negra no Brasil. Foi fundada em Salvador, em 1810, ainda no período da escravidão. Durante esse período a irmandade sofreu numerosas perseguições que provocaram a migração de integrantes para várias localidades do interior da Bahia, entre elas, Cachoeira. A partir do Recôncavo Baiano, a Irmandade se tornou ainda mais conhecida na Bahia e no mundo.
A festa da Boa Morte é o evento religioso e cultural que acontece entre os dias 13 e 17 de agosto na cidade de Cachoeira. O festejo em homenagem a Nossa Senhora da Boa Morte relaciona-se com as celebrações realizadas em Portugal para Nossa Senhora D’Agosto. Em Salvador, havia uma devoção por Nossa Senhora da Boa Morte, celebrada na Igreja da Barroquinha, até a década de 1820.
A fraternidade tinha o interesse de trabalhar para conseguir a própria alforria e a dos irmãos escravizados. De acordo com o dossiê da salvaguarda de registro e salvaguarda da Festa da Boa Morte como Patrimônio Imaterial da Bahia, realizado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), a Irmandade de Cachoeira é formada por mulheres negras, com mais de 40 anos, e está intrinsecamente ligada à vida e à morte. Os símbolos do cajado, tocha e brasão, as indumentárias, comidas e rituais fazem menção à passagem do Aiyê (mundo físico) ao Orum (mundo espiritual).
A devoção se originou ainda no período colonial, quando as mulheres negras oravam e lutavam pela liberdade e abolição da escravidão. A celebração também se dava como um rito de passagem quando algum irmão morria, pois para os povos vitimados pela escravidão, a morte poderia significar a liberdade plena do corpo e da alma.
A festa da Boa Morte é um evento matriarcal, onde as mulheres da irmandade são protagonistas. A irmandade é um coletivo ancestral. Os aprendizados e a devoção são repassados dos mais velhos para as crianças. Assim, a memória da irmandade se mantém viva e presente.