Falta de segurança fecha igrejas históricas em Cachoeira

Por estarem “fechadas”, igrejas históricas de Cachoeira causam decepção em turistas.

Murilo Santana

Por falta de segurança, as igrejas históricas de Cachoeira passam a maior parte  do tempo de portas “fechadas”. Embora os templos tenham sido reformados – com recursos públicos – no intuito de restaurar e conservar os conjuntos  arquitetônicos, obras históricas e, consequentemente, possibilitar o acesso do  público, muitas vezes isto não ocorre. Turistas que vêm a Cachoeira, sem a  companhia de guias que os informe sobre as condições de acesso aos espaços  históricos, encontram as igrejas fechadas e se decepcionam, pois a expectativa  de conhecer melhor a história da cidades é, muitas vezes, barrada.

Por falta de segurança, igrejas históricas encontram-se fechadas em Cachoeira.  Foto: Karlos Vynicius
Por falta de segurança, igrejas históricas encontram-se fechadas em Cachoeira.
Foto: Karlos Vynicius

Para Aneilton Menegat, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e turista que faz constantes visitas à cidade, é comum encontrar as  igrejas fechadas em Cachoeira e lamenta que, embora constituírem uma  arquitetura admirável, estão sempre de portas fechadas. “(…) As igrejas que  tentei entrar, aqui em Cachoeira, estão sempre fechadas. São muito bonitas, a  arquitetura é muito bonita, mas estão sempre fechadas. Uma cidade com essas  características, o fato dela não deixar um pouco escrita a sua memória,  demonstra um certo desleixo, no estilo: nós não estamos esperando a sua visita”, comentou.

Ouça trechos da entrevista com Aneilton Menegat:   

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Por que as igrejas estão “fechadas”?

O motivo das igrejas não estarem abertas segundo José Luís, secretário de Cultura e Turismo de Cachoeira, é a questão da segurança, considerando que para ele, seria temerário que os próprios fiéis vigiassem os templos. No entanto, o secretário assegurou que a partir de março deste ano, a cidade vai dispor da guarda municipal e, com isto, algumas unidades serão escalonadas para terem guardas permanentes. “Desta forma, os espaços poderão ser abertos à visitação, conforme acordo e entendimento estabelecidos entre a Secretaria e as Irmandades. Já que milhões de reais foram investidos nos templos e de repente o turista chega aqui e encontra as igrejas de portas fechadas (…). Contudo, a guarda municipal não é a garantia que não tenham  atos criminosos, mas é a garantia de uma proteção extra às Irmandades”, esclareceu.

Abertas ou fechadas, não há diferença, pois os fiéis não participam com muita frequência nas igrejas. Foto: Karlos Vynicius
Abertas ou fechadas, não há diferença, pois os fiéis não participam com muita frequência nas igrejas.
Foto: Karlos Vynicius

Qual a posição das Irmandades?

O posicionamento das Irmandades é, praticamente, o mesmo que o do secretário de Cultura e Turismo. Por motivo de insegurança, as igrejas ficam de portas fechadas. Conforme constatou Ivo Santana, 87 anos, prior da Ordem Terceira do Carmo, a igreja é aberta, mas, por falta de profissionais capacitados para atuar como vigilante e orientador, o templo fica com as portas principais fechadas. Porém, o prior relatou  que, com a chegada da guarda  municipal, as igrejas terão mais proteção o que possibilitará a abertura dos templos.

Ouça trecho da entrevista com Ivo Santana:

A partir de março deste ano, as igrejas contarão com o apoio da guarda municipal. Foto: Karlos Vynicius
A partir de março deste ano, as igrejas contarão com o apoio da guarda municipal.
Foto: Karlos Vynicius

 

 

Para Anderson Luís, membro da Irmandade do Monte e da Venerável Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira, “as igrejas  de Cachoeira não são fechadas, os únicos templos que são fechados, são os que não tem Irmandade (…)”. Anderson  relatou que a Igreja de Nossa Senhora  da Conceição do Monte, por exemplo, é aberta para visitação, mas, para isto, é preciso pedir  autorização ao representante da Irmandade, tendo em vista que, por falta de segurança o templo só abre uma vez por semana (as quintas-feiras) para oração do terço e no dia 8 de cada  mês para missas votivas.

 

 

Ouça trecho da entrevista com Anderson Luís:

 

 

E os fiéis, eles sabem que as igrejas estão “abertas”?

Para os turistas que, na maioria das vezes, não sabem o cronograma de abertura das igrejas, é  raro encontrar uma igreja aberta. Mas, para os fiéis católicos, como é esta realidade? Vynicius  Teles, 22 anos, estudante da UFRB e católico praticante, disse que, por falta de acesso ao  interior das igrejas em Cachoeira, o fiel se frustra e procura outro meio de se encontrar com  Deus, já que para Teles este meio de encontro com a divindade deveria ser a igreja. “Quando uma igreja está fechada por muito tempo, como é o caso de Cachoeira, o objetivo dela deixa de ser válido. Uma igreja é construída para ser um local de encontro pessoal com Deus. Mas quando o fiel se depara com uma igreja fechada, ele com certeza fica frustrado e procura um outro meio de se encontrar com Deus, no entanto a igreja deveria ser o local prioritário para o encontro com Deus. O que, às vezes, não é possível em Cachoeira”, relatou.

Ouça trecho da entrevista com Vynicius Teles:

Sem acesso ao interior, fiel faz reverência do lado de fora da igreja. Foto: Murilo Santana
Sem acesso ao interior, fiel faz reverência do lado de fora da igreja.
Foto: Murilo Santana

 

Cid José da Cruz, pároco de Cachoeira até o fim de 2013, assegurou que não há nenhum fator que impeça os fiéis frequentarem as igrejas, já que elas estão abertas quando têm cultos. “Quanto aos fiéis católicos, eles sabem os horários dos cultos e, consequentemente, de encontrar esses espaços aberto”. O ex-pároco também comentou a respeito das igrejas fechadas. Ele disse que o problema dos templos fechados é uma questão de falta de segurança que resulta na dificuldade de acesso dos turistas aos espaços históricos. Contudo, para ele, a solução desse problema “seria a capacitação de pessoas para salvaguardar os bens e manter os espaços abertos. Um outro investimento seria a guarda municipal para dar suporte na segurança dos bens,” afirmou.

Os fiéis frequentam as igrejas históricas?

Para fiéis cachoeiranos o fato das igrejas estarem abertas ou fechadas não representa diferença. Marinalva Menezes, 64 anos, católica praticante, relatou que há certa dificuldade no que se refere à participação dos fiéis, pois para ela, por mais que houvesse a possibilidade dos templos ficarem abertos constantemente, não seria algo louvável para parte dos católicos de Cachoeira, tendo em vista que, segundo Menezes, os fiéis cachoeiranos, mesmo                                                                       sabendo os horários de culto durante a semana, participam,                                                                           com mais frequência, só aos domingos.

Ouça trecho da entrevista com Marinalva Menezes:

Programa Monumenta

O programa visa à conservação e o restauro de conjuntos arquitetônicos e obras históricas circunscritas nos sítios elegíveis pelo IPHAN.

Em Cachoeira, o investimento do programa foi de mais de 36 milhões de reais, que já serviram para a conclusão de 15 obras na cidade.

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