Grupo Raça de Capoeira retoma atividades em Muritiba e Cachoeira

Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade desde 2014, o esporte e ferramenta socioeducativa vem se consagrando cada dia mais e é praticado em diversos países

Eliane Cruz

Mestre Soninha em uma foto do perfil do Grupo Raça de Muritiba no Instagram

O Grupo Raça retomou as atividades com crianças e adolescentes em Muritiba (cidade a 139,3 Km de Salvador), com um projeto que se chama Um chute para o futuro, sob a coordenação de Mestra Soninha. E, em Cachoeira (que fica a aproximadamente 116 Km da capital), os encontros ocorrem de segunda a sexta-feira, respeitando as normas e orientações da Organização Mundial de Saúde para a prevenção do COVID-19.

     Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade desde 2014, a capoeira vem se consagrando cada dia mais. Hoje ela é praticada em diversos países, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) ela expressa a resistência negra no Brasil durante a escravidão e seu reconhecimento como patrimônio reforça o valor desta herança cultural afro-brasileira.

     Ela é uma expressão corporal e cultural que compreende os seguintes elementos: luta, esporte, cultura popular, dança e música estabelecendo uma relação social e familiar entre mentor e aprendiz, difundida no boca a boca e na gestualidade na rua e na academia.

Grupo Raça de Muritiba

   

  O grupo raça de capoeira foi fundado na década de 1980, pelo Mestre Medicina, (Luís Oliveira Rocha) após comandar grupos em Itabuna e em Salvador. A sede fica na cidade de Muritiba-BA.  

  

    O Raça possui algumas filiais em cidades do recôncavo da Bahia, e também em Itororó, Salvador, Itabuna, Ilhéus, Camacan, Eunápolis, Maragogipe, Maceió, Maringá e outras.

     Em Muritiba existem vários trabalhos com a capoeira em diferentes faixas etárias. Um grande destaque é Sonia Maria da Silva Borges, conhecida e admirada como Mestra Soninha, primeira mulher capoeirista no Recôncavo Baiano, praticante há 34 anos e graduada em mestre há 10 anos, além de capoeirista é professora de educação física acumulando conhecimentos que se aplica cada dia mais no crescimento de seus alunos. Ocupando esse espaço tão almejado por muitos, Soninha conta qual o papel por traz desse título. Ela diz que um mestre acompanha, aconselha, orienta, instrui, tem o papel de perceber como o aluno tá, tanto na capoeira quanto nas coisas da vida. “Nos tornamos amigos e muitas vezes uma mãe, um pai, mestre de capoeira é assim”. Completa Soninha.

      Ela é a idealizadora de um projeto que temporariamente se chama Um chute para o futuro, ele tem como objetivo tirar as crianças e adolescentes das ruas e levá-las para uma segunda casa que é a academia. “A intenção é fazer com que as crianças os adolescentes, tenham um lazer, um esporte uma diversão, uma atividade física que ensine também um pouco de cultura, musica porque, a capoeira tem musicalidade, socialização, interação que ajuda muito a criança e o adolescente a se desenvolver de uma forma melhor, mais amigável”. Afirma a mestra. Sonia também esclarece que eles precisam ser cobrados. “Precisamos cobrar deles coisas necessárias para se viver melhor, pontualidade, respeito, respeitar os mais velhos”. E finaliza sua fala declarando que a educação é um processo bem demorado.

Crianças, jovens, adultos e idosos podem praticar a capoeira, além disso, ela é uma ferramenta socioeducativa para a formação, integração e agregação de valores.

Grupo Raça de Cachoeira

     Descendo a serra Muritibana e passando pela ponte Dom Pedro II, fica localizada a cidade de Cachoeira, lá encontramos o grupo Raça de Cachoeira, e lá também temos mestres, professores e instrutores dessa representação cultural tão bonita. Luís Antônio da Conceição, apelidado como Ninja, aborda sobre a contribuição do grupo para a comunidade ele diz “a finalidade do grupo é levar esperança, salvar o jovem do mundo do crime, também é ajudar todos aqueles a ocupar a mente e mostrar o quanto a capoeira é cultura”. Ninja pratica a arte há 13 anos e se encontra no estágio de Três cores, verde, amarelo e azul, Ele é aluno formado e instrutor.

Algo importante para ele é respeitar e valorizar os princípios que ela (a capoeira) os fornece. “Respeito, lealdade, obediência, parceria e não ao preconceito”, afirma Ninja, que tem um grande carinho pelo seu mentor, Mestre Mudo conhecido por esse nome, por ser deficiente auditivo o que não lhe impediu de ser um dos melhores de sua turma e um excelente professor, ensinando a Ninja e seus colegas, libras, além da capoeira. “Pegava alguns livrinhos e falava, estuda aqui, não precisa você fazer curso não”, conta lembrando do seu início na capoeira.

Ninja (à esquerda) e Mestre Mudo (à direita) juntos em foto no perfil no Instagram do grupo Raça de Cachoeira

     Em Cachoeira temos também o Mestre Robô, mentor do Mestre Mudo, que exerce a função há 11 anos, para ele o mestre desempenha a função de ensinar, orientar, educar seu aluno para uma vida correta, saudável física e mentalmente. “A capoeira nasceu através de negros escravizados vindos de várias localidades da África, como forma de lutar contra os senhores de engenho e feitores, criando a luta disfarçada em dança para enganar seus opressores”. Explica Mestre Robô sobre o surgimento.

Mestre Robô em foto do site do grupo Raça

     A capoeira é considerada dança, porque é apresentada por meio da criatividade na música, ritmo, canto, instrumentos, expressão corporal e movimento. Na dança, o curso visa utilizar o movimento para desenvolver flexibilidade, agilidade, destreza, equilíbrio e coordenação motora e entre os instrumentos usados para essa construção estão o berimbau, o atabaque, o pandeiro, o agogô e o reco-reco.

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