Reginaldo Silva
Dados preliminares apresentados pelo coordenador de ortopedia do Hospital Regional de Santo Antonio de Jesus, o médico Carlos Alberto Assunção, mostram que os acidentes com motocicletas se tornaram um problema de saúde pública na cidade e na região Recôncavo.
O problema já vinha sendo apontado pelo Ministério Público Estadual a partir da preocupação com a incidência de ciclomotores (motocicletas com até cinquenta cilindradas) na cidade, principalmente pilotados por menores de idade. Mas no nível da saúde pública, a questão ganha agora a atenção, exatamente a partir desta entrevista que o Reverso Online fez com o médico ortopedista Carlos Alberto.
Médico Carlos Alberto/foto Reginaldo Silva
Das informações apresentadas, o fato que mais chama a atenção é o número de pacientes acidentados em moto que ocupam os leitos da unidade hospitalar. Segundo o coordenador de ortopedia do hospital, cerca de 75% dos leitos são ocupados por estes pacientes. Ouça o que diz o especialista.
Quanto às sequelas ressaltadas por doutor Carlos Alberto, a mais grave delas têm sido as amputações. Há cerca de três semanas, por exemplo, dois jovens tiveram uma das pernas amputadas devido a acidentes com motocicleta. Segundo o especialista, este tipo de sequela é mais comum em acidentes envolvendo motocicletas de maior cilindrada já que, ainda de acordo com doutor Carlos Alberto, os acidentes com motocicletas de até 150 cilindradas normalmente provocam fraturas nas pernas, mas não chegam a levar a amputação.
Fora as sequelas, são inúmeras as mortes provocadas por acidentes com motocicletas, seja nas rodovias que cortam Santo Antonio de Jesus seja no perímetro urbano. O último caso, inclusive, aconteceu em um trecho considerado tranquilo do bairro do Cajueiro, quando um motociclista tentou fazer uma ultrapassagem numa pick up, mesmo com o motorista do veículo tendo sinalizado que faria uma convenção à esquerda. A moto, pilotada por Paulino Abade Silva e que tinha na carona Jackson da Paixão, foi atingida pela pick up L200 e o piloto morreu na hora.
Jovem morreu na hora/Foto Blog do Valente
Hospital ortopédico
Para o coordenador de ortopedia do Hospital Regional, os acidentes com motocicletas já se tornaram, de fato, um problema de saúde pública. Segundo doutor Carlos Alberto, o hospital, que pelo seu conceito funcional deveria servir como referência em diversos atendimentos, foi se tornando ao longo dos anos quase que exclusivamente um hospital ortopédico exatamente pelo grande número de acidentes com motos que acumularam pacientes nos leitos da unidade.
O mais grave, segundo ele, é que diversos procedimentos, inclusive cirurgias eletivas, deixam de ser realizados pelo hospital porque precisa atender aos casos de vítimas de acidentes motociclísticos, que caracterizam situações de emergência. O médico esclarece a questão em outro trecho da entrevista. Ouça a seguir.
Prevenção
A partir das ocorrências registradas no hospital, o diretor administrativo da unidade, Alex Carvalho, desenvolveu um trabalho de orientação, na tentativa de minimizar os índices de acidente com motocicletas e estimular ações de conscientização. “O hospital deu o seu testemunho, o hospital sinalizou, juntamente com o Ministério Público, para o universo, que existe uma endemia e que todos estão sujeitos a serem vítimas dessa doença que é o acidente com motocicleta”, esclareceu doutor Carlos Alberto.
Para ele, cabe agora ao poder público municipal adotar iniciativas de conscientização efetiva. “Ao nosso ver, esse trabalho de conscientização deveria ser antes do acidente. A municipalidade tem a obrigação de aglutinar ao seu derredor cada seguimento com a sua responsabilidade (para realizar campanhas de orientação e conscientização)”, sugeriu doutor Carlos Alberto.