O custo da permanência

Os desafios de quem mora longe de casa e o retrato do mercado imobiliário para estudantes da UFRB no eixo Cachoeira-São Félix. 

Localizado nas cidades de Cachoeira e São Félix, o Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia reúne estudantes de todas as partes do país.

Grande parte deste contingente de forasteiros vive longe de seus lugares de origem em casas alugadas ou em uma das duas residências universitárias. Eles impactam diretamente a economia e a sociabilidade da comunidade circunvizinha de diferentes formas, seja numa simples ida à um estabelecimento comercial ou na realização de um dos vários projetos de extensão universitária.

Basta uma simples olhada em um dos murais do campus ou em grupos do Facebook relacionados à instituição para vermos a quantidade de anúncios de quartos em repúblicas e casas para alugar. Os escritos em letras garrafais oferecem uma diversidade de imóveis, que vão desde São Félix até o Caquende.

Segundo enquete realizada pelo Reverso com estudantes de diferentes cursos do CAHL, os valores dos aluguéis praticados na região não condizem com o perfil socioeconômico de grande parte dos estudantes da UFRB.

O mapa abaixo ilustra como as médias de valores oscilam de acordo com a proximidade para o campus e não necessariamente de acordo com a estrutura do imóvel ou a quantidade de quartos.

Para a construção do mapa, utilizamos informações obtidas pela enquete, tomamos como base dados geográficos aproximados e o poder de compra do Real em 2017.

O aluguel de uma casa no centro da cidade chega a custar R$ 1.600 por mês. Com valores não tão convidativos, a estratégia utilizada é morar nas tradicionais repúblicas estudantis – residências compartilhadas entre estudantes onde a máxima da organização é a divisão de tarefas e gastos.

VIDA EM REPÚBLICA 

Victor Rosa, estudante do CAHL, mora em Cachoeira há 3 anos e reclama da dificuldade de encontrar casa para alugar. Um problema que ele atribui ao alto custo de locação: “Teve um caso que a dona queria cobrar R$1200 por uma casa minúscula, com quatro quartos pequenos e quando questionamos o preço ela simplesmente argumentou com ‘se vocês não quiserem, tem quem queira”.

Com uma estrutura simples, comum às casas da cidade, ele afirma que sua atual casa é a terceira e uma das melhores que teve até agora: “São quatro pessoas morando em uma casa de quatro quartos, todos forrados, com um banheiro, quintal e com aluguel no valor de R$700.”

Os transtornos de moradia vão além das dificuldades financeiras enfrentadas por muitos alunos do centro, existem também os problemas de convivência que afloram à medida que ocorre o choque cultural entre as pessoas que vão morar na mesma residência e para Victor Rosa isso é resolvido com organização. “Uma das medidas que tomamos, pelo menos em relação a higiene, é fazer uma tabela com os dias e a função de limpeza de cada um. Já em relação as compras acabam virando um acordo, e nessa casa eu compro as coisas para mim”, conclui.

RESIDÊNCIA UNIVERSITÁRIA, UMA QUESTÃO DE PERMANÊNCIA 

Maria do Paraguaçu e Ademir Fernando, esses são os nomes das duas residências universitárias mantidas pela Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis (PROPAAE), ambas se localizam na cidade de São Félix. Nos últimos dois semestres, foram oferecidas 17 vagas femininas e 13 vagas masculinas por meio do programa de permanência da universidade. Um processo burocrático que demanda tempo e paciência.

A Residência Ademir Fernando, visitada pelo Reverso, apresenta problemas estruturais e mato crescendo em meio às pilastras de um local que deveria ser uma área de convívio. Tais adversidades, que poderiam ser um caso isolado, são recorrentes em outras residências da UFRB.

Panorâmica da Residência Ademir Fernando | Foto: Rodrigo de Azevedo

O estudante de Artes Visuais Rafael de Jesus é da cidade de Valença e divide um apartamento com mais três pessoas. Ele nos conta que a distância e a insegurança na travessia da ponte que liga a residência ao quarteirão de aulas atrapalham, e relembra um episódio tenso onde homens armados, em uma tentativa de invasão, trocaram tiros com o segurança da residência

Há por parte dos moradores das residências uma política de acolhimento onde estudantes sem condições financeiras são abrigados. Yuri Santos cursa o quarto semestre do curso de Jornalismo e após ficar desempregado viu na política de acolhimento uma chance de continuar o curso.

“No fim do segundo semestre fiquei desempregado e quando voltei para cursar o terceiro tive a intenção de participar do processo de seleção da PROPAAE, mas desisti devido a burocracia”, revela o estudante que após ter conversado com moradores da Ademir Fernando foi acolhido até que tentasse uma vaga no processo seguinte.

Morador da residência há um ano e meio, o jovem Rodrigo Azevedo diz ter se surpreendido: “A gente chega com uma imagem muito ruim da residência universitária, ter que dividir apartamento e quarto com quem você não conhece, de ouvir que o local só tem bagunça. Mas não é isso, me adaptei rápido e gosto de morar lá”.

Procurada pelo Reverso através de e-mail, a Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis não enviou nenhuma resposta até o fechamento desta matéria.

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2 comentários sobre “O custo da permanência

  1. O texto faz sentido pra quem é burguês e veio de fora, pois morar nas periferias de Cachoeira não se paga um aluguel maior que 300,00. Tem casas com 2/4 por este preço, moraria 3 pessoa pagaria 100,00 cada entendeu…

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