Quando vocês entraram em contato comigo, sugerindo esse tema, fiquei muito surpresa, não esperava, por isso topei na hora. Teresa Morais, psicopedagoga.
Em 1983, o livro Estruturas da mente: a teoria das Inteligências Múltiplas foi publicado pelo cientista e psicólogo norteamericano Howard Gardner, que buscava através da teoria das Inteligências Múltiplas (IM) mostrar que não existe apenas um tipo de inteligência. Apesar de ter causado grande impacto na educação devido à vários artigos e planos de ensino publicados na época, hoje em dia a teoria é muito pouco falada e utilizada nas práticas educacionais.
Gardner que era P.h.D na Universidade de Havard, fazia estudos com pessoas que haviam desenvolvido algum dano cerebral e num grupo de pesquisa, chamado “Projeto Zero”, analisava indivíduos a partir de diversas habilidades em diferentes formas de artes. Foi assim que ele desenvolveu a teoria IM, pois através de seus estudos acreditava que a inteligência seria uma “capacidade de processar informações no intuito de resolver problemas ou criar produtos para serem valorizados num ambiente cultural”. (Gardner, p.18, 2009).
Como resultado, inicialmente, foram classificadas sete inteligências, com o tempo foram agregadas mais duas, contando-se nove tipos de inteligência: a inteligência linguística; lógico-matemática; musical; espacial; corporal-cinestésica; intrapessoal; interpessoal; naturalista e a existencial que ainda não foi confirmada como uma inteligência por Gardner.
As inteligências linguística e lógico-matemática são mais valorizadas pela sociedade e nas instituições de ensino. Xavier Vatin, graduado em música, doutor em antropologia, atualmente professor na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, assim como Gardner discorda da eficiência dos testes de Quociente de Inteligência (QI), por ser objetivo de quantificar a inteligência além de não abranger todos os tipos. Dessa forma o cálculo do QI serviria somente para medir as inteligências linguísticas e logico-matemática, assim Vatin acredita que “na história das sociedades ocidentais que desenvolveram esses conceitos, há muitas vezes aplicações de preconceitos através do conceito de Inteligência por classificar pessoas superiormente mais inteligentes que outras“.
Dificuldades em trabalhar a teoria (IM) nas escolas
Uma sociedade movida por valores capitalistas se tornaria inviável ir contra o sistema e valorizar as outras inteligências. É de interesse da lógica do capital que as crianças sejam induzidas pelas escolas a escolher profissões relacionadas às áreas de linguística e lógico-matemática. As profissões voltadas para a área cultural, por exemplo, são pouco estimuladas nos jovens.
A psicopedagoga Teresa Morais teve contato com a teoria há 17 anos entende que “a escola está muito mais preocupada com o desempenho do aluno no vestibular, quem não alcança a meta das inteligências que a escola investe vai ficando à margem”. Segundo ela é quase inexistente o número de profissionais da sua área que trabalham com a teoria nas instituições “pode procurar alguém que trabalhe no meio, é difícil de encontrar”. Em sua opinião a ideia de uma escola de inclusão seria ideal para estimular todos os tipos de inteligência e que pudesse desenvolver diversas rotas de ensino.
Para a pedagoga, exclusão das outras inteligências traria consequências tanto sociais quanto individuais “eu, por exemplo, poderia ser uma boa bailarina, mas isso não me foi estimulado”. Na atual situação o bem-estar social é posto em segundo plano em prol de ser “bem-sucedido” diante da sociedade “isso pode ser visto no dia-a-dia, quando vamos a um estabelecimento e o indivíduo está com a cara fechada e sem brilho”, explica.
No Brasil, especificamente no Recôncavo da Bahia no município de Cruz das Almas existiu uma escola com aplicações voltadas para a teoria. Não se utilizavam livros, os livros eram construídos durante o processo de aprendizagem. As salas de aula não tinham portas, os alunos eram livres para escolher assistir ao conteúdo que preferissem. Em um determinado momento, os profissionais tiveram que mudar a forma de ensino fazendo uso de livros, por conta do padrão de ensino que era imposto. A instituição de ensino que usava o nome de “Casa do Saber” extinta nos anos 90 por conta das exigências do mercado.
Crítica a teoria
Mas a teoria de Gardner recebe muitas críticas, dentre as quais a do filosofo do Reino Unido Jonh White ganha destaque, sendo citado pelo próprio Gardner no livro Inteligências múltiplas: ao redor do mundo. White acredita que a teoria não possui critérios comprovados empiricamente, então não é válida. Afirma também que há uma confusão entre os valores de base cultural com relação às atividades intelectuais específicas e aptidões com características biologicamente fixas. (White, 2006)
Instituições que aderiram à teoria (IM)
Uma teoria voltada inicialmente para o campo da psicologia, o assunto causou mais interesse em profissionais da educação e familiares de crianças. O que sensibilizou Gardner, com o auxílio de colaboradores, a analisar a aplicação da teoria desenvolvida em vários lugares do mundo.
Na Argentina, a teoria foi aplicada com a rede de ensino L@titud, um grupo que abrange educadores na América Latina com incentivo a teoria IM. Seu foco principal é trabalhar as inteligências interpessoal e intrapessoal, como forma de ajudar aluno que tem um histórico de vida violento a ter uma compreensão melhor do mundo e de si mesmo. Acredita-se que qualquer aluno pode ter uma vida educacional satisfatória, independente do seu passado conturbado.
Na Noruega mais 71 escolas aderiram a teoria de Gardner. Uma lei foi aprovada na Noruega no ano de 1998, que exige que as instituições eduquem seus alunos visando a individualidade de cada uma. No entanto, a lei não especifica como fazer e a teoria ajudou nesse sentido.
Na escola Torvmyrane, os alunos passaram por um processo de auto-conhecimento em que eles e seus pais respondem um questionário para elencar suas aptidões. Segundo o livro Inteligências múltiplas: ao redor do mundo, a professora Ase Saunes acredita que é importante esclarecer os pontos fortes e fracos dos alunos, justamente para descobrir de que forma o conteúdo pode ser aplicado.
Entretanto, existem duas dificuldades apontadas para a aplicação da teoria, a primeira seria a falta de conhecimento à respeito e segundo seria como dialogar com as outras escolas que tem a forma de ensino tradicional.
Quando se valoriza a teoria das inteligências múltiplas seria tornar de igual relevância as profissões de engenheiro, cozinheiro, dançarino, coreógrafos e atleta, quebrando com a noção de inteligência que se considera hoje na sociedade.
Para saber mais, acesse o livro.
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