O uso da tecnologia na primeira infância

Por Magno do Rosário

Diferente de outras gerações, as crianças de hoje já nascem imersas na maravilhosa era da tecnologia. Os brinquedos de antigamente, tão sadios que eram, perderam espaço para os eletrônicos, ficando mesmo somente nas lembranças dos pais. Tabletes, computadores, videogames e smartphones, encabeçam a lista dos presentes mais desejados, em detrimento dos carrinhos de madeira, das charmosas bonecas e até mesmo das radicais bicicletas.

Figura 1: Crianças brincando com tablet – Foto: reprodução

Em relação aos adultos, se a cada dia o avanço tecnológico nos apresenta novidades que facilitam a nossa vida em todos os sentidos, cada vez mais estamos dependentes dos aparelhos, de maneira que é inconcebível a ideia de atualmente se viver sem os recursos dispostos no mercado. Não havendo, entretanto, o controle, essa dependência poderá prejudicar bastante o indivíduo, alterando sua qualidade de vida e, por isso mesmo, afetando seu desempenho profissional. Além disso, poderá alterar completamente sua rotina e causar consequências como insônia, estresse, culminando por muitos casos, quando a coisa fica crônica, precisarem ser tratados com medicamentos.

Figura 2: Grupo de crianças brincando no laptop – Foto: reprodução

Mas, se o uso exagerado dos aparelhos prejudicam os adultos, imagina as crianças, especialmente aquelas que têm menos de cinco anos de idade? Os pais devem ou não permitir o uso desses produtos?

O psicólogo Edson de Brito, especialista em avaliação psicológica, diz que não há nenhuma contraindicação em crianças nessa faixa etária ter acessos aos aparelhos, mas recomenda que os pais não devem permitir que elas façam o uso por mais de duas horas diárias, isso porque um tempo maior de contato pode causar dependência que, por sua vez, poderá prejudicar bastante a formação da garotada.

Perguntado se é normal crianças com menos de cinco já terem acesso ao celular, Edson responde: “Não era para ser normal, mas, com essa geração pós-moderna, uma geração muito ocupada, onde os pais não têm mais tempo para os seus filhos, isso infelizmente se tornou normal. Normal era que a criança estivesse brincando, mas não com um aparelho na mão. Normal é que ela ficasse se sujando, caindo, ralando, levantando, brincando de bola, tendo outros afazeres. Com a correria do cotidiano, muitos pais preferem colocar seus filhos na frente da televisão ou dão um celular, porque assim eles vão se distrair, mas, dessa maneira, estão ensinando seus filhos a serem consumistas, não tendo tempo mais de conversar, de brincar”.

O pai de família, Angelo Morais, diz que dificilmente deixa que seu filho, de quase dois anos, mexa mais que cinco minutos no celular, e defende: “Ele aprende mais interagindo com os pais do que mexendo em coisas aleatórias no celular. Dar a ele acesso a apps educativos pode ser bom, mas a perda do vínculo afetivo não é atenuada por isso. Os pais precisam estudar se quiserem ser presentes nessa etapa. Muitas sinapses importantes se formam antes dos quatro anos. Se os pais quiserem que a criança, no futuro, tenha facilidade em abstrair as coisas, em matemática, por exemplo, devem se informar sobre como interagir com a criança para conseguir isso”.

Samile Martins, mãe de uma criança de 4 anos, afirma que que sempre dá o celular para a filha, pois, assim, a menina se distrai e permite que ela cuide dos afazeres domésticos. Diz também que nunca tinha pensado que o uso demasiado desses aparelhos poderia afetar a formação da garotinha. Já Felipe Novais, pai de um garoto de dois anos e nove meses, declara que permite que o filho use o celular por bastante tempo e que, na maioria das vezes, é para também cuidar das coisas do lar. “Confesso que poderíamos vigiar mais. Mas procuro conciliar com outras atividades que auxiliam no desenvolvimento do intelecto dele”, pondera.

Para saber se uma criança está começando a ficar dependente ou mesmo se já é um, é imprescindível a observação do comportamento, de alguns sinais que poderão ajudar os pais a policiarem seus filhos. Por exemplo: crianças existem que não saem mais na porta para brincar com os amigos porque passam muitas horas nos computadores ou smartphones.

Dentro desse sinal, temos outros fatores que podem ser muito prejudiciais, como problemas de visão oriundos do demasiado tempo fixando as telas luminosas. Também o fato de muitas crianças passarem a repetir o comportamento agressivo de alguns personagens de desenhos animados, como Peppa Pig, que ultimamente gerou muita polêmica. Mas, acima disso tudo, a baixa no rendimento escolar deve também ser considerada como um dos grandes motivos de preocupação.

Em sua prática clínica, Edson garante que muitos pais chegam ao seu consultório preocupados e com muitos questionamentos sobre o uso dos aparelhos na infância. E alerta para todos sempre ficarem atentos a com quem seus filhos conversam, jamais permitindo que as crianças fiquem trancadas nos quartos nessas ocasiões. “Não neguem o direito que seus filhos têm de ter vocês na vida deles. A tecnologia nunca vai poder substituir o abraço, um não, um beijo, um boa noite, o amor de um pai ou de uma mãe. A tecnologia nunca vai substituir a família”, orienta.

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