Poluição no rio Paraguaçu desafia desenvolvimento de comunidades pesqueiras

Emissão de poluentes no curso de água são identificadas desde as nascentes até trecho abaixo da barragem da Pedra do Cavalo.

Por Júlia Matos Melo*.

A poluição lançada no rio Paraguaçu prejudica mais de cinco mil famílias de pescadores e marisqueiras. A estimativa é da Colônia de Pescadores de Santiago do Iguape, distrito do município de Cachoeira. O maior rio genuinamente baiano navegável, que abastece todo o Recôncavo e 60% de Salvador e Região Metropolitana, enfrenta problemas em diversos trechos. Isso reduz a pesca de espécies de peixes como o robalo, que garante o sustento da população ribeirinha.

Ao longo dos 600 km de extensão, a poluição e o descaso são visíveis e chegam ao trecho que banha as cidades de Cachoeira e São Félix. É possível verificar o lixo nas margens bem como a contaminação da água causada por agrotóxicos utilizados pela agricultura intensiva. 

Iniciativas do poder público são consideradas insuficientes para amenizar prejuízos de comunidade pesqueira com poluição. Wille Marcel Lima Malheiro (LinkLivre/UFRB/Graer-BA)

O problema se torna mais complexo quando considera-se os dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde. Divulgados em 2018, apresentam níveis preocupantes de existência de agrotóxicos nos cursos de água dos municípios que fazem parte da bacia hidrogŕafica do Paraguaçu desde a Chapada Diamantina. No território estão localizadas as nascentes do rio, próximas às áreas intensamente exploradas pelo agronegócio.

Apesar de análises concluírem que as alterações nas características da água no reservatório do complexo Pedra do Cavalo não a tornarem imprópria para o consumo humano, é notável a diferença da qualidade da água no trecho do rio abaixo da barragem. É comum também a comparação do nível de balneabilidade do Paraguaçu a partir da memória de quem conheceu o curso antes da construção da barragem, em 1985. 

De acordo com o presidente da Associação Amigos do rio Paraguaçu, Diego Araújo, é possível notar que o trecho do rio abaixo da barragem da Pedra do Cavalo está em situação crítica. “Devido à falta de educação ambiental da população, desmatamento da mata ciliar e esgotamento sanitário que é despejado no rio e seus riachos, o rio vem sofrendo bastante nesses últimos anos”, afirma.

Ações são realizadas pela iniciativa privada e poder público local a fim de promover a educação ambiental. Foto: Ascom/Prefeitura de Cachoeira

A associação que Diego preside é uma organização sem fins lucrativos que trabalha em parceria com escolas e comunidades ribeirinhas da região no processo de educação ambiental. A organização realiza ações como caminhadas ecológicas e integra o conselho municipal do meio ambiente, no qual atua em prol da conscientização ambiental da população. 

Os integrantes da associação trabalham também com ações de limpeza dos afluentes do rio Paraguaçu. As atividades educacionais em escolas e junto à população também visam contribuir com a conscientização de que é necessário buscar soluções para os problemas ambientais do rio. 

Ainda de acordo com o presidente da organização, o poder público tem se mostrado sensível às demandas ambientais. São realizadas limpezas de alguns pontos do rio, campanhas de conscientização da população para que não se jogue lixo nas margens ou dentro do rio, entre  outras ações junto às empresas privadas. 

Entretanto, as medidas ainda são insuficientes para promover a melhoria da vida da população que retira o sustento do rio. Para o presidente da Colônia de Pescadores e Aquicultores de Santiago do Iguape, distrito de Cachoeira, Erivaldo Araújo, o órgão municipal responsável pelo Meio Ambiente não dá conta de atender as demandas necessárias para manter o ambiente saudável. Isso prejudicaria os pescadores de municípios como Cachoeira, São Félix e Maragogipe. “O descaso em conjunto com a falta de políticas públicas contribuem com o aumento da poluição e com o prejuízo que as famílias dessa região têm tido com a dificuldade em pescar nesses trechos sujos e cheios de lixo”, analisa.

Lixo pode ser visto às margens do curso de água nas cidades do Recôncavo banhadas do rio Paraguaçu. Foto: Julia Matos

Araújo afirma ainda que o fluxo do rio Paraguaçu para o estuário da Baía do Iguape tem diminuído gradativamente, o que afeta diretamente a produtividade biológica e a renda dos pescadores. “Têm espécies desaparecendo, pescadores deixando sua área de pesca, se deslocando para lugares mais distantes. O rio Paraguaçu é a única fonte de alimentação para as famílias que vivem e sobrevivem da pesca”, ponderou Erivaldo. 

A falta de cuidado da iniciativa privada, do poder público e parte da população reduzem as possibilidades de recuperação do rio e dos recursos naturais. Compromete-se assim não só os modos de vida das famílias ribeirinhas da região, mas também parte significativa do abastecimento de água do estado.

“A questão do meio ambiente é uma questão de saúde pública também. Tendo em vista que quanto mais o rio é poluído mais doenças são proliferadas entre a população” disse o membro da Associação Amigos do Rio Paraguaçu. O trabalho de conscientização nas redes digitais por meio de publicações com alertas sobre a situação do rio e formas de recuperá-lo também passaram a fazer parte da estratégia da organização social.

Limpeza – A prefeitura municipal de Cachoeira realizou em outubro, com o apoio da secretaria de Ordem e Serviços Públicos uma ação para realizar a limpeza das margens do trecho do rio Paraguaçu que beira a cidade. Foi retirado lixo, excesso de lama e outros resíduos. A ação visa contribuir para a preservação ambiental da cidade. 

*Editada por Vinicius Morende

Foto de destaque: Paul R. Burley