Recôncavo em alerta: abandono de animais pode gerar riscos à saúde

Sociedade civil organizada e órgãos do poder público trabalham para evitar a proliferação de doenças.

Por Maria Alice Santos e Júnior Rodrigues.

Em várias cidades do Recôncavo Baiano, é comum encontrar animais soltos pelas ruas, em busca de restos de comida ou de um lugar seguro para dormir. Muitos enfrentam fome, doenças, ferimentos e maus-tratos. A bióloga e médica veterinária de Cruz das Almas, Alanna Rachel, chama a atenção da população para as doenças mais comuns: verminoses, doença dos carrapatos, miíases, sarnas, leishmaniose, leptospirose e raiva animal.

Animal em situação de abandono afetado por sarna. Foto: Karina Brito (Instituto Karina Brito)

“A superlotação de animais nas ruas, independentemente de terem tutores ou não, traz diversos perigos para esses animais, incluindo disputas por território, alimentos e fêmeas. Essas disputas frequentemente resultam em brigas, que, por sua vez, levam à ocorrência e transmissão de diversas doenças, como miíases, tétano e outras infecções de várias naturezas, incluindo a temida raiva”, alerta a veterinária.

Alanna Rachel faz um apelo à conscientização da sociedade e às autoridades competentes para abordar esse assunto. Ela enfatiza a importância da castração como uma medida preventiva, além da adoção responsável. “Recentemente, houve um caso de raiva em um cão errante notificado em São Paulo. Esse tipo de notícia é motivo de grande preocupação, pois quantos outros animais sem vacinação podem ter sido infectados enquanto estavam na rua antes desse resgate?”, questiona a profissional.

Alanna conta ainda que o problema do abandono de animais nas áreas urbanas causa grandes riscos à saúde pública. A irresponsabilidade do abandono atua como um ciclo gradativo que começa quando o animal é abandonado e enfrenta dificuldades nas ruas, como a fome. Quando desnutrido, o animal torna-se vulnerável a várias doenças. Além disso, as brigas entre eles por comida ou território resultam em ferimentos que podem levar à proliferação de enfermidades. Um animal infectado pode atacar as pessoas, podendo transmitir diversas doenças.

 Animais soltos nas ruas de Cruz das Almas. Foto: Karina Brito (Instituto Karina Brito)

De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), a vacinação é crucial para reduzir algumas doenças. No primeiro semestre deste ano não foram registrados casos de raiva em cães e gatos no Estado. No entanto, o vírus da raiva foi detetado em 31 animais selvagens e de criação. Os dados destacam a importância da vacinação dos animais de estimação para evitar a propagação de doenças.

Para evitar que os números aumentem, prefeituras e organizações não governamentais têm realizado trabalhos sociais e educativos na região. Em Cruz das Almas, por exemplo, o Centro de Acolhimento Animal resgata animais de rua vítimas de maus-tratos. “Recuperamos esses animais em situação de vulnerabilidade, machucados e feridos, para que recebam tratamento adequado. Após essa assistência, os animais são colocados para adoção”, afirma Márcio Xibica, responsável pelo órgão público.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em 2022 estimam que existam cerca de 30 milhões de animais abandonados nas ruas do Brasil, sendo 10 milhões gatos e 20 milhões de cães. Os animais abandonados são uma preocupação, especialmente, para os ativistas.

Animais abandonados preocupam ativistas e poder público. Foto: Júnior Rodrigues

Recôncavo – O Instituto Karina Brito tem realizado ações em Cruz das Almas para apoiar a causa animal. Essa organização sem fins lucrativos promove campanhas de castração a preços acessíveis, eventos de adoção de animais, palestras nas escolas e ações educacionais nas redes sociais. “Um animal de rua é uma vítima da irresponsabilidade da população que o abandona e cada cidadão tem o dever de ajudar e proteger esses seres vivos. Podemos fazer a diferença fornecendo água e comida, apadrinhando um animal e contribuindo financeiramente para consultas, remédios, castração e vacinas”, destaca Karina. Além disso, instituições públicas também podem ser fundamentais para apoiar essa causa.

Ativista Karina Brito resgatando animais em situação de rua. Foto: Arquivo pessoal

UFRB – O Hospital Universitário de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (HUMV-UFRB) desempenha um papel importante como centro de cuidados médicos para animais. O setor de Serviço Social do HUMV é fundamental na região, oferecendo suporte aos proprietários de animais que enfrentam desafios socioeconômicos em relação aos tratamentos de seus animais de estimação.

Local no qual funciona centro de atendimento a animais abandonados, na UFRB. Foto: Divulgação

É por meio desse serviço que pessoas em situações de vulnerabilidade social, que têm dificuldade em arcar com os custos do tratamento de seus animais, encontram ajuda. Os proprietários são ouvidos, recebem orientações e passam por uma avaliação socioeconômica que pode resultar em tarifas sociais acessíveis ou em encaminhamentos adequados.

Os atendimentos sociais são preferencialmente realizados com hora marcada, das 8h às 13h30. Para que a avaliação seja feita é necessário que o proprietário do animal seja maior de 18 anos e apresente um documento original com foto.

Para mais informações ou esclarecimento de dúvidas, os interessados podem entrar em contato pelo telefone (75) 3621-0972 ou pelo e-mail: s.social@humv.ufrb.edu.br.