Reflexões após o amanhecer 

Um misto de sentimentos e desabafo. Charlie Brown Jr. nunca errou quando disse: “Só os loucos sabem”

Sabrina Ortega

É tão impressionante a reação que o clima provoca em mim. Certo dia, ainda antes de me levantar da cama, olhei no relógio e eram umas cinco horas e onze minutos da manhã. Estava aquele tempo chuvoso, o céu cinza, bem nublado, um ventinho gelado balançando a cortina, uma brisa boa de sentir. Vi da janela do quarto aquele horizonte carregado de boas energias que me fez respirar fundo e refletir ao apreciá-lo. 

Ao olhar para o horizonte, deparei-me com duas estrelas destacando-se com o seu brilho acima de duas árvores, um coqueiro e um jenipapeiro. Até então aparentava ser noite no céu cinzento. Mesmo assim, abaixo das estrelas, ao centro, vinha nascendo o sol radiante, num degradê do laranja e amarelo indo além do infinito com o som dos pássaros trinando, as nuvens passando, o galo cantando, mostrando que o dia havia chegado.

Também há dias em que a gente acorda e continua vendo uma neblina ao nosso redor. Não falo apenas do clima, e sim do nosso eu interior. Mais precisamente, do coração. Mal sabe que são os nossos olhos começando a lacrimejar.

Porque as vezes é tão difícil segurar uma lágrima indesejada? Será que não estou sendo forte o suficiente? Porque queremos tanto um céu azul e ensolarado que chamamos de “uma luz no fim do túnel” em nossas vidas? 

Sim, eu sei que não é difícil, nem impossível. Eu sei que existem momentos alegres e momentos tristes e que isso faz parte desse ciclo que vivemos. Tudo é fase, sinto-me num jogo de emoções e aventuras que vai derrotando aquele dia ruim e vencendo a cada partida dada. É como diz uma das músicas de Charlie Brown Jr.: “Na minha vida tudo acontece, mas quanto mais a gente rala, mais a gente cresce.”

Equilibrar na balança esse misto de ser sol e ser tempestade ao mesmo tempo, é nessa música que sigo a lição quando diz que “a vida me ensinou a nunca desistir, nem ganhar, nem perder, mas procurar evoluir”. É dessa mesma maneira que as lindas flores nascem e crescem, até porque elas também têm espinhos. Não posso ser uma pessoa indefesa, e aconselho, não seja! Pois é assim também que as abelhas boas vivem mais, sabem usar o seu ferrão na hora certa, deixando-lhes mais seguras e decididas.

Ah, por que expor nossos sentimentos é tão complicado? Por que temos essa insegurança? Há pessoas que guardam os seus embaixo de sete chaves, ou guardam pra si. Outras, os revelam e encaram de vez, sem saber o que vem pela frente. Nossa mente parece um ímã, o que a gente pensa, atrai, e depois não sabemos lidar com tantos pensamentos catastróficos. 

Às vezes, dividir um problema pode ser um passo importante para resolvê-lo, em forma de texto, em canção ou em pinturas, quem decide somos nós, não é mesmo? Mas como achar um meio termo nisso tudo? Quantas perguntas, hein? E quem foi que disse que pra tudo há uma resposta? Não sei.

Só sei que o prazer da vida, é curti-la com alegria e leveza, pois podemos fazer dela a aventura que a gente quiser. Pois então abrace, beije, demonstre, ame, perdoe, faça o que tiver no seu alcance. Vindo naturalmente de dentro para fora, pode ser um caminho maravilhoso a seguir, porque transformamos sofrimento em aprendizagem. Aliás, viver o aprendizado desses dois sentimentos, nem sempre é fácil, mas eles são necessários para o nosso crescimento. 

É com esse mesmo olhar focado para o horizonte que vou vivendo e lutando pelos meus sonhos, sabendo que no final de tudo há sempre uma luz maior brilhando e iluminando tudo à nossa volta, e acima de tudo, quando a nossa luz é interior, ela se expande e extrapola os limites. “Vamos viver, e cantar, não importa qual seja o dia, vamos viver, vadiar, o que importa é nossa alegria”, disse o eterno Chorão. Que isso possa ser o nosso lema todos os dias, mesmo diante dos dias mais difíceis.