Vocalista e instrumentista da banda Estakazero fala sobre a banda, trajetória, expectativas e pandemia

Emilly Chaves

A Estakazero completa 20 de existência em 2021, e por conta da pandemia, Leo Macedo e sua banda não podem comemorar da melhor maneira possível: levando multidões para os seus shows. Quem nunca veio ao São João de Cachoeira e dançou agarradinho ao som de Encosta n’eu? A banda que sempre marcava presença no São João da Feira do Porto faz falta nesse um ano e meio de pandemia.

Mas a história de Leo Macedo vem muito antes da Estakazero, quando mais novo, fez parte da banda Colher de Pau, que tocavam nos forrós dos blocos, festas universitárias, e era composta por primos e amigos, de forma mais amadora. Após esse processo de amadurecimento surgiu a Estakazero, com uma proposta mais profissional e empreendedora no universo da música.

“A banda colher de pau mostrou meu caminho na música. Me mostrou que era ali que eu me realizava, era ali que eu me destacava”, afirmou.

Após a saída da banda e o desejo de criar um novo grupo musical, amigos de Léo começaram a questionar se ele realmente ia querer recomeçar e mais uma vez, voltar a “estaca zero” e em meio a todos os questionamentos, surgiu assim, o nome da sua nova banda: Estakazero. Tendo como referência a banda Falamansa, Léo decidiu trazer a simplicidade e a ideia de uma banda pequena, com poucos instrumentos, trazendo no seu repertorio músicas dançantes, utilizando de artifícios regionais já aproveitando a ascensão que o forró estava naquele momento, o vocalista estudou e se aprofundou nesse universo e a partir daí, deu início a sua banda de Forró.

“Não fui eu quem escolhi o forró, foi o forró quem me escolheu.”

Léo Macedo fez parte da banda Colher de Pau antes de ir para a Estakazero

Meio de vida

Viver de música não passava pela sua cabeça, apesar de ser filho de professora de piano, Léo contou sobre os preconceitos sociais que existem para quem sonha em ser artista, e que tinha absorvido esse receio e decidiu seguir na vida acadêmica. Quando decidiu viver de música, Léo largou a faculdade de ciências contábeis:

“Eu nunca planejei isso, apesar de sempre fazer música, eu não imaginava que poderia ser um meio de vida, fui descobrindo aos poucos que seria possível.”

A Estakazero teve várias formações, a primeira delas que alavancou a banda durou oito anos, e após esse período alguns componentes decidiram seguir carreira independente, dando espaço a novos integrantes. A composição original era de cinco instrumentos: violão, baixo, zabumba, sanfona e triângulo. E, com o passar dos anos, foi havendo a necessidade de aumentar a formação, de shows pequenos passaram a fazer com um público de 20 mil a 50 mil pessoas, nesse momento entrou mais três instrumentos: bateria, guitarra, teclado, e a marca da banda: a presença de casais dançando o forró pé-de-serra. Antes da pandemia, a banda já tinha 8 dançarinos e 8 instrumentistas, e juntando com a equipe técnica, somava mais de 20 membros.

Pandemia e estratégias

 Ao questionar sobre como a banda encontra-se atualmente, Léo se entristece ao dizer que o último show que realizou foi no dia 7 de março de 2020, e desde então a banda está parada. Pensando na saúde e preservação, cada um decidiu se cuidar da melhor forma que encontrou, alguns se mudaram para o interior, outros têm outras atividades, e alguns começaram a tocar em espaços abertos para poucas pessoas.

Léo Macedo encontrou nas lives, um meio de lidar com as adversidades encontradas durante esse um ano e meio de pandemia. Todos os artistas sofreram impactos com a pandemia, e com ele não foi diferente. Os problemas financeiros advindos das ausências de shows o fizeram vender a sua casa em Salvador e se mudar para seu sitio na RMS (Região Metropolitana de Salvador), e Léo sempre tenta ver sempre ver o lado bom, e afirma que agora passa mais tempo com sua família e em contato com a natureza. E complementa sua fala dizendo que uma das coisas que mais dói é ver seus filhos vivendo essa vida digital, sem poder aproveitar a juventude.

“É muito difícil, é muito doloroso pra nós, artistas, porque o que nós sabemos, o mundo que conhecemos da música…da arte, é o palco, as plateias, estou vivendo as experiências das lives. No primeiro ano, no primeiro São João, fiz muitas lives, muito movimento, tive que aprender muito rápido. Esse ano eu já melhorei bastante nas lives mas já não estão atraindo mais os públicos, foi uma onda que passou. Diminuiu bastante.”

Recôncavo

No ano de 2017 a Banda divulgou seu clipe da música “Barco de amor” gravado ao redor do Convento de Santo Antônio localizado em São Francisco do Paraguaçu, às margens do rio Paraguaçu.

E ao ser questionado sobre a decisão, Léo afirma que sua história em Cachoeira são de longas datas, já que sua mãe é cachoeirana, e visitar a família nas férias era um compromisso marcado, afirma:

“Sou filho de Cachoeira, parte da minha infância, minhas férias, natal, sempre foi lá.”

Léo diz que sua paixão é o mar, e que viver em um barco é seu sonho, velejador por prazer, Léo já subiu o Rio Paraguaçu várias vezes e em uma delas conheceu São Francisco do Paraguaçu, e se encantou, decidindo naquele momento realizar a gravação do seu videoclipe. “Vou gravar meu clipe aqui, muito lindo esse lugar”, declarou.

Veja o videoclipe “Barco de amor” disponível no youtube.

São João

O São João, apesar de inicialmente ser uma data comemorativa religiosa, com o passar dos anos foi se tornou uma festa regional nordestina, que atrai pessoas de muitos outros lugares. No nordeste, as festividades juninas duram todo o mês de junho e tem suas maiores concentrações nos dias 22,23 e 24.

O milho, o amendoim, as roupas quadriculadas, as quadrilhas, os licores, e os grandes shows ao som do forró são exemplos característicos que marcam presença todos os anos nas cidades nordestinas. Com a pandemia as quadrilhas não ensaiaram, os grandes shows viraram lives e as mesas fartas se reduziram a pequenas porções em família.

Quando questionado sobre a volta dos shows, Leo Macedo tentou não criar tantas expectativas, já que tudo ainda é muito incerto:

“Então assim a gente espera muito que a gente possa voltar, de que maneira exatamente…. Acho que o tamanho vai se reduzir muito, os grandes shows vão ter que esperar, não posso dizer que estou crente no São João de 2022, a pandemia acontece no mundo inteiro, a gente está vendo o noticiário… Como podemos pensar que daqui a 5, 6 meses vai ter uma festa com mais de 1 milhão de pessoas na rua que é o carnaval de Salvador, e logo após o São João que também é uma loucura nas ruas, nas praças? Enfim eu tô muito preocupado.”

Polêmicas

Léo Macedo polemizou ao fazer uma crítica sobre a inserção de outros ritmos no São João, alegando a descaracterização de uma festa regional, que por ser um feriado nordestino deveria ter a preservação da cultura junina.  Em uma antiga declaração feita para o site metro1.com.br o vocalista pontuou que: “É um feriado nordestino, não é um feriado em São Paulo, é um feriado da Bahia para cima. 24 de Junho é um feriado nordestino, é uma festa de cultura nordestina, então isso é fato, não é polêmica, isso é uma coisa óbvia. O problema é que as pessoas confundem a festa cultural com showbusiness” e que o São João é um único fim de semana, e muitos desses artistas conseguem fazer shows o ano inteiro, realidade bem diferente de muitos artistas regionais e locais. Ao ser questionado sobre as falas, Léo respondeu:

“O axé e o pagode nem são os maiores ‘vilões’ do São João, porque dependendo da cidade né, como Cachoeira, que tem o reggae muito presente, eu acho ok. O que eu mais combati nesses últimos anos é a mentira de dizer que artistas sertanejos, só porque têm uma sanfona no palco, tem a ver com São João. Minha briga maior foi quando o sertanejo entrou na jogada. Porque eu acho que não teria problema contratar um artista da Bahia para tocar no São João da Bahia, como já vi Ivete Sangalo e Daniela Mercury fazerem shows de forró. Enfim, é uma discussão grande isso ai, é obvio que o forró deveria ser a música que predominasse no São João, mas eu tô há 25 anos no São João fazendo festas e já vivenciei muito isso.”

E completa afirmando que as festas cresceram muito e com isso surgiu a necessidade de ter um apelo comercial, e muitos prefeitos acabavam se rendendo a artistas consagrados. Que muitos amigos relatavam ir a cidades do interior para curtir o São João e voltaram sem conseguir assistir um show de forró. E finaliza sua crítica mandando uma mensagem para os leitores:

“Enfim, isso cabe a pessoa que gosta e tem consciência de ir aonde tem forró, tem cidades que mantem a tradição e valorizam como a Chapada Diamantina, o problema é que as pessoas estão atrás de celebridades.”

Futuro

“O futuro da banda é o passado da banda.” Com essa frase, Léo reponde sobre como ele vê a banda daqui a alguns anos.

A Estakazero trouxe muita contribuição para o forró no brasil, e Léo não pensa em parar por aí, completando seu vigésimo ano com muitas músicas de sucesso, e, como forma de comemoração, lançou mais uma este ano: ‘Mais vinte anos’. Ela traz de forma criativa e nostálgica imagens e letras com os maiores sucessos da banda nesses 20 anos de trajetória.

Veja o videoclipe Mais vinte anos, lançado neste ano.

Apesar de não estar fazendo shows, a banda continua ativa nas redes sociais, nas plataformas como youtube e spotify, e o cantor conta que ele e os integrantes esperam ansiosamente esse momento passar, afirmando que: “pretendemos nos fortalecer mais ainda e voltar com tudo, do jeito que a gente puder, para dar continuidade a essa história…quero mais vinte anos com certeza aí pela frente”.

Conheça mais sobre a banda no site https://estakazero.com.br/

Acompanhe a banda Estakazero nas redes sociais instagram: @leoestakazero