Um novo São João? Relembre algumas tradições antigas dos eventos juninos e o que mudou 

A comemoração que se mantém firme até os dias atuais possui grande importância cultural principalmente para as cidades localizadas no interior da Bahia

Manuela Paulino 

São João reúne várias tradições ao mesmo tempo. Foto: Beatriz Pankará

Quando lembramos do São João pensamos em várias tradições ao mesmo tempo. No Nordeste, o evento festivo tem uma grande importância cultural desde muito tempo com a existência de antigas celebrações. As comemorações obtinham anteriormente uma essência mais familiar, segundo alguns relatos de pessoas que se faziam presentes nas manifestações.

Os festejos não tinham apenas como objetivo principal o entretenimento, era desde já uma mistificação artística e imaginária. As interações que eram feitas com frequência contavam com toda uma decoração e produção. Grandes fogueiras predominavam sequencialmente portas das ruas nas casas principalmente nos interiores.  

“O São João começava nas escolas, havia competições de quadrilhas. Sinto falta dos bailes de São João. O Baile da Chita onde todas as moças ficavam vestidas com vestidos de chita rodando. Havia babados, bicos e fitas para enfeitar os vestidos. Os festejos começavam desde o Santo Antônio e terminava apenas no 2 de julho”, comentou a aposentada Nilza Araújo, moradora da cidade de Taperoá, localizada no interior baiano, a aproximadamente145 km da capital da Bahia.

O que se sabe é que com a dimensão do São João algumas cidades que são reconhecidas no período junino, diversificaram e reformularam o evento. O forró, que é um dos patrimônios do período junino, deixou de ser em algumas regiões o ritmo musical mais idolatrado e as festas focaram-se preferencialmente em uma ideia pretenciosa de comercialização. A dominação do forró se deu conta após a popularização das músicas de Luiz Gonzaga.

Atualmente a mistificação de bandas no período junino ocorrem com a presença de vários ritmos musicais, o que também seria uma proposta comercial intencionalmente pensada em expandir um maior número de turistas para as pequenas cidades que se popularizaram com base no fornecimento do que mais entrega entretenimento musical atualmente. A aposentada Gilzelia Almeida, moradora do centro da cidade de Cachoeira, localizada no recôncavo baiano falou sobre os novos festejos que ocorrem na cidade turística. 

Antigamente não existiam essas festas, eram de portas em portas. Gritavam ‘São João passou por aí’? As pessoas abriam suas casas para oferecerem as bebidas e comidas da época. Não existiam festas de largo. Só as quadrilhas nas escolas. Por fim, eu não gosto, virou um São João comercializado”, comentou a cachoeirana Gilzelia Bonfim. 

Festa de São João em Cachoeira — Foto: Vinícius Castro/Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Cachoeira

Forró das viúvas

Na cidade de Taperoá, ocorre uma tradição durante o período do São João que se chama “Forró das Viúvas”. Segundo Nilza Araújo, o forró foi idealizado na igreja católica da cidade. A intenção do padre foi criar um entretenimento para estas mulheres que não se divertiam durante anos.

O evento atualmente tomou uma proporção maior e com a caracterização das viúvas é realizada a festa que também conta com ingressos para quem deseja participar do festejo. Existe na tradição uma competição entre as viúvas que é eleita como a “viúva do ano”, a escolha ocorre por conta das votações que são direcionadas pela vestimenta.  

Forró das Viúvas — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução Facebook

História do São João

Muitas pessoas curtem os seus festejos priorizando tradições antigas e outras preferem os grandes eventos festivos que são populares hoje em dia e contam com grandes bandas de sucesso em cidades do interior baiano. O que grande parte da população não sabe é que o ritmo predominante do São João, a fogueira e tantos outros costumes possuem uma origem histórica. Segundo uma entrevista dada pelo historiador Cauã Liberato, publicada no site do Bahia.ba no dia 24/06/2021, o São João celebra no calendário cristão o nascimento de João Batista que foi o responsável pelo nascimento de Jesus Cristo.

O historiador completou informando que as festas juninas são celebradas pelos católicos desde a idade média e foram incorporadas ao Brasil na colonização e processo de catequização. Até mesmo as comidas típicas do período junino coincidem com as chuvas em junho que possibilitam o plantio do milho e amendoim.