Aumento do número de mulheres em cargos de chefia

Crescimento indicado pelo IBGE atesta a desconstrução da ideia de que mulheres devem dedicação total ao lar e à família

Jessica BatistaS

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) elegeu pela primeira vez uma mulher como presidente. Laurita Vaz era vice-presidente do STJ, mas também já ocupou os cargos de Subprocuradora-Geral da República e antes disso, Promotora de Justiça do Estado de Goiás. Ao mesmo passo, o Supremo Tribunal Federal (STF) também vai ter uma mulher na liderança a partir de setembro quando a ministra Carmen Lúcia deve assumir a presidência, se tornando a segunda mulher a ocupar este posto (a primeira foi a ministra Ellen Gracie (2006 a 2008). Enquanto isso, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) e o Superior Tribunal Militar (STM) tiveram apenas homens como presidentes.

Na Bahia, o Tribunal de Justiça (TJ-BA) tem em sua Mesa Diretora 4, dos 5 postos ocupados por mulheres, inclusive a presidência, com a Maria do Socorro Barreto Santiago. Além disso, de acordo com a composição atual listada no site do TJ-BA, o número de desembargadoras (29) praticamente se equipara aos de desembargadores (30). Mas se a classificação for por raça ou cor, além de gênero, como fez a economista Bárbara Castilho na amostra da pesquisa intitulada “Gênero e Raça do Acesso aos Cargos de Chefia no Brasil – 2007”, os percentuais do TJ-BA variam: 44% das desembargadoras são brancas e 3%, negras; 42,4% dos desembargadores são brancos e 8,5%, negros.

A Desa. Maria da Graça Osório Pimentel Leal atua em cinco setores do TJ-BA. Foto disponível em O Mandacaru
A Desa. Maria da Graça Osório Pimentel Leal atua em cinco setores do TJ-BA. Foto disponível em O Mandacaru

Castilho aponta que as pessoas, sendo diferentes em cor/raça e/ou gênero, encontram oportunidades desiguais no acesso aos cargos de chefia, desde a escolaridade de cada grupo, inserção e permanência no mercado de trabalho.

Mercado de trabalho:

A participação da mulher em cargos de chefia está aumentando, mas ainda é significativamente pequena. Em 2015, a ONU informou que 5% dos cargos de chefia são ocupados por mulheres. O dado mostra um avanço, já que o percentual aumentou consideravelmente em comparação com anos anteriores, mas também mostra uma disparidade quando se observa sob outra perspectiva: 95% de postos de liderança são ocupados por homens. Contradições nas oportunidades de trabalho para mulheres e homens fazem com que alguns espaços sejam considerados “masculinos”, isso inclui cargos de chefia.

As mulheres que chegam à liderança laboral se destacam na desconstrução da ideia de que a elas caberia a dedicação total ao lar e à família. A cientista social Andressa Bauermann de Paula, no trabalho “A Participação de Mulheres em Cargos de Chefia”, diz que “é comum encontrar mais mulheres na base da pirâmide ocupacional ou no exercício de atividades que embora importantes são menos valorizadas. Menciona-se, por exemplo, o caso da concentração feminina no exercício de atividades ligadas à educação básica, cujas funções costumam ser menos prestigiadas em comparação as de níveis de ensino mais elevados. A questão, portanto, gira em torno das relações de poder que estabelecem maior valor ao trabalho masculino”.

Em pesquisa realizada em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) mostra que aproximadamente 35,5% das mulheres estavam no mercado de trabalho com carteira de trabalho assinada, enquanto que os homens apresentavam 43,9% na mesma condição. Ao mesmo tempo, o número de mulheres empregadoras correspondia a 3,6%, já os homens empregadores, 7,0%.

Distribuição da população ocupada, por formas de inserção, segundo o sexo – média das estimativas mensais de 2009.  Gráfico IBGE
Distribuição da população ocupada, por formas de inserção, segundo o sexo – média das estimativas mensais de 2009. Gráfico IBGE

 

Em 2005 foi criado o Programa Pró-Equidade de Gênero no Mundo do Trabalho afim de disseminar novas posturas na cultura organizacional visando a igualdade de gêneros no mundo do trabalho e também o alcance de bons resultados na produtividade e na qualidade deste ambiente. Segundo consta no site da Secretaria Especial de Política para as Mulheres (SPM), órgão criador do Programa, a premissa é construir oportunidade para aprofundar a transversalidade e interseccionalidade do enfoque de gênero e raça partindo da transformação da maneira como as empresas tratam seus negócios, suas políticas e a força de trabalho.

 A discussão levantada pelas feministas e por estudiosos da área é que a dedicação exigida da mulher no ambiente doméstico faz com que muitas abdiquem da ascensão profissional para dar preferência à vida pessoal, visto que as responsabilidades de cuidado com o lar geralmente são atribuídas às mulheres.

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