Mãe Lita conta a importância de parir seus filhos em casa com parteiras

Iêda Maria Brito

Parteira é um título mais antigo do profissional que chamamos de obstetriz. Ao longo dos anos, baseando-se em novas filosofias, houve mudanças, na denominação e na área de atuação dessas profissionais. Passando de parteira para obstetriz (1925) e finalmente a enfermeira obstetra (1949). Até 1932, no Brasil, a pratica da profissão era exercida por mulheres possuidoras de “Certa experiência de Examinação das parturientes”, não existia aprendizado formal, muitas vezes eram passadas de mãe para filha.  http://uol.com.br//

Segundo o livro “O feminismo mudou a ciência?  1999 de Londa Schiebinger. Sabe-se que quando a assistência da mulher foi controlada pela medicina profissionais nos séculos XVII e XIX, a experiência de dar à luz mudou notavelmente para as mulheres. Sem romantizar as parteiras, é possível ressaltar certas diferenças entre suas práticas e aquelas dos homens parteiros e seus sucessores obstetras. Enquanto, por exemplo, as primeiras parteiras modernas haviam prestado assistência às mães, não apenas em relação ao nascimento, mas também a outros aspectos de sua vida diária (por exemplo cozinhando e cuidando das outras crianças enquanto a mãe se recuperava), os homens parteiros davam assistência a mãe apenas durante as horas de parto, e finalmente exigiram que as mulheres dessem à luz em hospitais um processo que afastou as mulheres de seu sistema de apoio (Pág. 209 à 210). Diante da contextualização desse oficio relacionado a parteiras tradicionais, fui em busca, através de pesquisas na comunidade no município de governador Mangabeira, cidade do Recôncavo do Baiano. Não encontrei nenhuma parteira, e sim uma mulher que teve seus filhos pelas mãos de uma parteira, e auxiliou em alguns partos. No Brasil é proibido esta pratica, porem existem movimentos que buscam a recuperação do parto normal.

A senhora Maria Alves Ferreira nascida em 1933, hoje com 82 anos de idade conhecida popularmente como “Mãe Lita”, tem uma grande satisfação, alegria em falar da sua história: “Pariu onze filhos todos de parto natural, pelas mãos da mesma parteira que fez seu parto e também dos seus filhos “Mãe Vicentina” parteira reconhecida e famosa em toda região”. Ah.” Ela se preocupava muito quando a gente estava esperando neném, ela já arrumava a trouxinha uns dias antes. E quando chamasse ela estava pronta”.

Mãe Lita, no nascimento do seu primeiro filho ficou durante sete dias em trabalho de parto sendo acompanhada pela parteira que era constante não só apenas durante o parto, mas também nos primeiros quinze dias que era o período que a parturiente não podia tomar banho, molhar a cabeça, levantar-se etc. Para fazer o parto era usado apenas lençóis limpos, uma tesoura, atadura, mertiolate e álcool para fazer a higienização.

Ela ainda relata um fato muito curioso e importante para desempenhar com sabedoria a tarefa de parteira, conta com a experiência adquirida desde menina, quando se escondia em baixo da cama para assistir o  parto da mãe, escondendo atrás das portas para escutar as conversas e com seu próprio parto, que dois de seus filhos ela própria fez. E essa experiência mais tarde fez com que, ela fizesse o parto de duas filhas.

Ela afirma de forma clara que se fosse parir nos dias de hoje daria preferência ao parto natural amparada pela parteira, pois, partos de mulheres que o médico não dava jeito mãe Vicentina fazia, e também o resguardo demorava mais tempo, os remédios eram banhos cozidos, como cajueiro branco, preparado pela própria parteira; “E uma grande diferença é que eu, as filhas que fiz o parto, nunca sentiu nada e as outras sentem dores nas costas, na coluna, dor de cabeça e umas doenças que dão no útero e a alimentação”.

As parteiras tradicionais são mães de umbigo, madrinhas, parteiras do mato detentora de conhecimentos, costumes e saberes da arte de botar gente no mundo, e faziam e faz por sabedoria ou por uma necessidade da comunidade onde vivem. E mesmo com as mudanças da ciência, vale considerar gestação e o parto momentos únicos e inesquecíveis, por tanto deve-se levar em consideração as vontades e desejos da parturiente, ou seja, respeitar de como a mulher deseja ser assistida durante a gestação e trabalho de parto.

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Mãe Lita pariu 11 filhos, todos em casa Foto:Iêda Maria Brito

Escolhi Mãe Lita por ser uma senhora reconhecida na comunidade como mãe, madrinha de umbigo, também auxiliava e acompanhava muitas mulheres em trabalho de parto, sempre em companhia de parteiras mais velhas. Ela pontua de forma clara e convicta, os benefícios e a importância que uma parteira fez em sua vida. Emocionada ela diz “Tudo acontecia com a proteção de Nossa Senhora do Parto, a protetora das parteiras e das paridas”. (Fonte: Maria Alves Ferreira).

 

 

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