Métodos de contracepção em três gerações

Ana Paula Pitanga

Os métodos anticonceptivos femininos tiveram em seu desenvolvimento, tanto preceitos científicos quanto de tradições repassadas entre as gerações de mulheres. Com o passar dos anos eles se multiplicaram e surgiu a pílula anticoncepcional, método que representou para as mulheres além do controle da sua fertilidade, as mulheres puderam ocupar espaços que antes eram destinados apenas aos homens.

A trajetória da saúde da mulher carrega vários momentos de preconceitos. Em séculos atrás não existia um conhecimento adequado sobre seu corpo, os estudos eram feitos apenas para mostrar a inferioridade da mulher diante do homem. Elas eram excluídas de pesquisas biológicas, os cientistas acreditavam que o corpo do homem servia como representação de ambos os sexos, o sistema de reprodução era o que diferenciava.

Assim, o corpo feminino era usado sobretudo em estudos relacionados ao sistema reprodutivo. As parteiras, aparecem para suprir a ausência de profissionais especializados na saúde da mulher.

Apesar de viver em uma época mais à frente, a aposentada Antônia Pitanga, atualmente com 67 anos, teve 12 filhos, dos quais onze deles nasceram com parteiras e apenas um foi por cesariana. Seu primeiro filho nasceu em 1964, quatro anos após o surgimento da pílula anticoncepcional. Ainda que com pouca freqüência, o método mais utilizado por Antônia foi a ducha contraceptiva. Foi ensinado por sua mãe e consiste na lavagem da vulva após a relação sexual através de um aparelho que é introduzido na vagina. Segundo a aposentada, para ter o caráter contraceptivo é necessário colocar água morna ou chás (tanchagem, picão ou boldo) para executar o processo. Esse método não é considerado muito seguro pelos especialistas.

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Além da utilidade contraceptiva, a ducha também era usada para cuidar da região reprodutiva da mulher. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lavagem_vaginal)

Antônia usou poucas vezes a pílula anticoncepcional. Além de não ter poder aquisitivo suficiente para custear o medicamento, ele lhe trouxe alguns efeitos colaterais “eu inchava muito quando usava, tinha meses que ficava muito nervosa”. A laqueadura também foi utilizada, para ela seria a opção mais viável devido a falta de tempo para cuidar de outras crianças e o impedimento de ter empregos melhores. Por ser definitivo, para executar o procedimento de laqueação, era exigido uma autorização por escrito do cônjuge.

Na década de 60 as mulheres começaram a ocupar espaços nas Universidades e foi através dessa participação que a feminista estadunidense Margaret Sanger com o auxílio do cientista Gregory Goodwin Pincus lutou para que fosse criado um método de contracepção eficaz e que oferecesse autonomia às mulheres sobre a escolha de ser mãe. Surgiu assim a pílula anticoncepcional.

No Brasil a pílula foi introduzida sob o temor da explosão demográfica da época. Na França o quadro social era diferente, a natalidade no país estava controlada. Um dos motivos foi vulgarização do coito interrompido. Enquanto que para as francesas, o uso da pílula hormonal significava a capacidade de ter autonomia sobre seu corpo, para as brasileiras era a obrigação de controlar a taxa de natalidade do país.

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A pílula anticoncepcional começou a ser comercializada no Brasil em 1962. (Fonte: http://www.melhoramiga.com.br/2013/04/pilulas-anticoncepcionais-podem-aumentar-o-risco-de-problemas-vasculares)

Meire da Silva (47), hoje dona de casa, enxerga na pílula a possibilidade de sair para o mercado de trabalho, pois acredita que diferente do tempo de sua mãe os métodos de contracepção não eram tão eficazes como os do seu tempo, “elas usavam vários métodos, porém nem todos funcionavam, é só olhar quantos filhos nossas mães e avós têm”.

Apesar de relevar os benefícios do comprimido, no tempo em que fez o uso recorda: “eu engordei muito, apareceram celulites no meu braço”. Logo quando começou a comercialização no Brasil, as pílulas continham altas doses de hormônios, o que causava vários efeitos colaterais, como náuseas, trombose, dores de cabeça e aumento de peso, etc. Com sua evolução a quantidade de estrogênio passou de 150 para 30 microgramas, ocasionando a redução das reações. Meire utilizava também a camisinha que lhe causava ressecamento e o pós-coito, modo este que lhe deu seu primeiro filho.

Hoje em dia é visível uma participação maior das mulheres em cargos de ensino superior ainda que não seja democrático. Daniele Souza (23), é formada em pedagogia, trabalha como professora em um colégio de ensino de fundamental-básico. Utiliza dos métodos da camisinha e pílula anticoncepcional, comemora que “com a pílula pude escolher a hora de ter filhos e nós mulheres podemos ter relações sexuais sem ter medo de ter filhos, nesse sentido fazemos por prazer”.

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