O limitado número de docentes doutoras negras

Noézia Teixeira

No Brasil, de 63.234 docentes na educação universitária, apenas 251 mulheres são professoras doutoras negras, informa Joselina da Silva, no texto Doutoras Professoras negras: o que nos dizem os indicadores oficiais, com base no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – Sinaes,  até o ano 2005.

A autora do texto aponta o dedo para aqueles que desenvolvem estudos sobre a educação no Brasil, mas não mostram a disparidade na educação superior,  muito menos fazem indicadores por raça, como se não existissem professoras doutoras negras. Dessa forma negando que no país não existe problemas raciais.                                                           

A pesquisa demonstra a coragem de Joselina, em expor a verdade e observar cuidadosamente os dados, de forma que revela onde estão os erros, e dando visibilidade para a sociedade está em alerta e exigir seus direitos.

A vivência como negra e mulher na sociedade brasileira, em grande parcela é ignorada nos espaços acadêmicos em pleno século XXI.  Na busca de compreender a desigualdade institucional, nos deparamos com consequências de baixos valores, por conta do sexismo e do racismo. Os quais são fatores que atuam como ferramenta de exclusão social.

Com muitas lutas, aos poucos as mulheres negras alcançaram seu espaço na sociedade, e hoje a história afro tem seu lugar, tanto na educação básica quanto na superior. Mas isso não tem sido o suficiente para mostrar a capacidade da mulher negra. Apesar do baixo número, eles informam que existem sim, aquelas que estão lutando pelo reconhecimento e pela igualdade de gênero e raça dentro das universidades e no mercado de trabalho.

Através do número apresentado no texto de Joselina, se percebe que a maioria dos docentes universitários são brancos. Diante desse dado, boa parte dos pesquisadores sobre raça e gênero também são brancos, e de certa forma conseguem aos poucos silenciar o pequeno número de negros que dali fazem parte, isto pelo simples fato da brancura. O branqueamento é mais um responsável pela exclusão dos negros, e na maioria das vezes, mulheres na área superior.

Então, toda essa problemática trás questionamentos: porque se importar tanto com a qualidade e quantidade de negras no meio educacional superior? Se não houver luta por direitos e igualdade, quem vai representar os negros nesses espaços? Apenas as funcionárias da limpeza ou do refeitório? Não. Não é o suficiente, há capacidade e espaço para bem mais do que essa representatividade.

A luta deve se iniciar desde o ensino básico para que a juventude negra cresça informada e determinada a ocupar estes recintos, que desde os primórdios até os dias atuais, ainda operam a supremacia branca. Certos que essa juventude é apenas uma semente, porém, podem germinar, crescer, ocupar espaços e assim agregar companhias a luta.

Trazendo o assunto para o Centro de Artes Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, a situação não é diferente apesar de ser um local de diversidades. Boa parte do corpo docente feminino é composto por mulheres brancas. Cerca de 60 mulheres fazem parte do corpo docente do CAHL. Em busca das professoras negras que fazem parte do CAHL, foi encontrado oito nomes, apenas, que são eles: Carla Carolina Nova, Martha Rosa Queiróz, Ângela Figueiredo, Tânia Santana, Maria Regina Moura, Rita Dias, Georgina Gonçalves e Lúcia Aquino.

Denise Ribeiro
Especialista em desigualdades raciais na educação, pelo CEAO/UFBA Foto: Noézia Teixeira

Em entrevista, umas das professoras doutoras negras que colabora com pesquisas no centro, Denize Ribeiro, Mestre em saúde comunitária e Doutora  em saúde coletiva pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia. A professora relata, “já sofri preconceitos sim, na carreira acadêmica, e até mesmo algumas pessoas desacreditaram que eu fiz doutorado”. Em uma de suas pesquisas, sobre a questão da saúde da população negra, a docente encontrou dificuldades para encontrar orientador, por conta do preconceito.

A professora desenvolve um trabalho nas perspectivas de gênero e raça, aonde tem um grupo de pesquisa que se chama: NEGRAS – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Raça e Saúde, na UFRB. Essa pesquisa parte do coletivo Angela Davis, a qual trabalha com essas questões. Angela, é conhecida por lutar pelos direitos das mulheres, contra a discriminação social e racial.

No ponto de vista da professora Denize, os motivos para o baixo número de negras como doutoras e pesquisadoras científicas se dá a partir do momento em que as alunas iniciam a pós-graduação, quando têm o primeiro contado com as experiências científicas. “Os professores escolhem seus bolsistas. A contar da percepção dos professores/orientadores, do que para eles é um aluno com perfil de pesquisa e pós-graduação. Além disso, muitos alunos negros desconhecem o processo de chegada à pós-graduação”, conta a docente.

O baixo número de professoras doutoras negras discutido nesse texto aponta um “círculo de desvantagens acumuladas” que só será superado quando houver reconhecimento e for combatido com políticas públicas fazendo justiça social, em busca de corrigir distorções e promover a igualdade racial e de gênero. Além disso, a valorização das mulheres doutoras negras chegaram a um nível de merecimento.

 

 

 

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